PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Juros e puxada do PIB

Foto do author Celso Ming
Atualização:

Na Coluna de domingo, foi dito que não tem cabimento defender redução dos juros básicos (Selic) só porque a atividade econômica está em forte retração. Quem tem essa postura está confundindo meta de inflação com meta de crescimento.O assunto precisa de mais atenção porque ainda há por aí o entendimento de que o Banco Central (BC) tem de operar com duplo mandato. Ou seja, o instrumento dos juros (política monetária) não teria de ser manejado apenas para manter a inflação dentro da meta, mas também para garantir o crescimento econômico. Esse ponto de vista já tem um equívoco. O duplo mandato, como existe nos Estados Unidos, não consiste em controlar tanto a inflação quanto trabalhar para o avanço do PIB, mas em manter tanto a inflação como o emprego em níveis satisfatórios. No Brasil, caso prevalecesse o duplo mandato, o BC não teria de garantir mais emprego, porque o nível atual é de pleno-emprego.Já que o BC do Brasil é regido pelo regime de metas de inflação, não caberia derrubar os juros para ajudar a recuperar a atividade econômica. Só teria sentido fazer isso se a inflação já estivesse sendo conduzida para o centro da meta.Mas há mais a considerar. Primeiro, a economia não está empacada porque os juros subiram demais, mas pelas opções equivocadas de política econômica feitas pelo governo. Não caberia compensar com derrubada dos juros o que está errado por causa de outros problemas.Em segundo lugar, despejar moeda na economia (e, assim, reduzir os juros) para tentar recuperar a atividade econômica tenderia a provocar mais inflação do que a que já está a caminho. Está mais do que sabido que, apenas as correções inevitáveis dos preços administrados deverão puxar a inflação de 2015 para 7%. E, se o governo entender que é preciso desvalorizar o real (promover a alta do dólar), será inevitável, também, novo foco inflacionário promovido pela alta dos preços dos produtos importados.Em terceiro lugar, uma reativação da demanda agora, por meio do afrouxamento monetário, impediria o ajuste que, mal ou bem, começa a ocorrer. Os últimos três anos e pico do governo Dilma mostraram que o problema não está na falta de demanda, mas na falta de oferta. É o investimento que precisa ser ativado, não o consumo. E o que está travando o investimento é um pouco de tudo: a paralisia do governo, a falta de regras nas concessões, o baixo nível de confiança (veja o Confira), a desarrumação da economia e tudo isso junto.Em quarto lugar, dentro do marco regulatório do sistema de metas, o BC poderia, sim, determinar a imediata redução dos juros, não porque devesse puxar a atividade econômica, mas porque estivesse identificando uma trajetória firme de inserção da inflação na meta.E, finalmente, se apesar de tudo o que ficou dito, a ideia fosse mesmo baixar os juros para melhorar a atividade econômica, nenhum resultado prático poderia ocorrer neste resto de ano, porque a política de juros leva de seis a nove meses para começar a produzir algum efeito.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.