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Juros recuam, mas crédito segue escasso

Taxas de spreads também caem, mas inadimplência volta a subir, diz BC

Por Fabio Graner e BRASÍLIA
Atualização:

O custo do crédito no Brasil recuou novamente em fevereiro, mas o ritmo de crescimento do conjunto dos financiamentos permaneceu fraco e só não entrou definitivamente no terreno negativo por conta dos bancos públicos. Dados do Banco Central divulgados ontem mostraram que os juros médios cobrados de consumidores e empresas caíram 1,1 ponto porcentual em fevereiro ante janeiro, para 41,3% ao ano. O spread bancário - diferença entre o custo de captação dos bancos e o juro cobrado dos clientes - caiu de 30,5 pontos porcentuais para 29,7 pontos. Informações ainda preliminares do BC indicam que até 16 de março houve novo recuo, com o juro médio chegando a 40% e o spread a 29 pontos. Esse movimento foi determinado pelas operações com pessoas físicas. Em modalidades como cheque especial e crédito pessoal, os bancos já trabalharam com taxas nos níveis anteriores à fase aguda da crise. Em termos de volume de crédito, no entanto, os números mostram que os bancos privados, nacionais e estrangeiros, estão jogando na retranca. Ambos tiveram redução no estoque de crédito, enquanto os bancos públicos tiveram expansão de 1,7% e alcançaram uma participação de 37% no total de crédito do País. Um ano antes, em fevereiro de 2008, a fatia dos bancos públicos era de 34%. Os bancos privados nacionais no mês passado tiveram uma participação de mercado de 42%, com queda de dois pontos porcentuais na comparação com igual mês de 2008. Já as instituições estrangeiras passaram de 22% para 21%. O saldo total do crédito concedido pelo sistema financeiro no Brasil foi de R$ 1,23 trilhão no mês passado, com alta de apenas 0,1% ante janeiro. Em 12 meses, o crescimento acumulado é de 28,3%, refletindo a trajetória forte com que vinha se expandindo antes da crise. O desempenho fraco do crédito fica mais claro no dado sobre novas concessões mensais de empréstimos, que tiveram queda de 7,7% em fevereiro ante janeiro, passando de R$ 133,7 bilhões para R$ 123,5 bilhões. Em 12 meses, a queda foi de 5,1%. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, explicou que o dado é distorcido pelo menor número de dias úteis de fevereiro. Mas, mesmo quando se leva em conta a média diária, os dados não são alentadores. . A economista do banco Fator Silvia Ludmer explicou que a combinação de atividade econômica em baixa com uma postura mais defensiva dos bancos tem levado ao fraco desempenho do crédito. "Uma coisa alimenta a outra", explicou. Segundo ela, chama atenção que até os créditos pré-aprovados, como cheque especial e cartão de crédito, estão perdendo fôlego, o que indica esgotamento do já fraco ritmo de expansão dos financiamentos. Apesar do desempenho fraco do crédito, Altamir Lopes preferiu destacar a expansão de 1,2% no segmento pessoa física. Ele explicou que, para as empresas, a queda de 1,6% se deveu à combinação de sazonalidade (no início do ano a procura por financiamentos é menor) com o ritmo mais fraco da economia, que reduz a demanda. Outro dado ruim foi o novo crescimento da inadimplência, que passou de 4,6% para 4,8%. O movimento mais forte foi nos calotes de empresas, que subiram 0,3 ponto porcentual, para 2,3%.

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