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Justiça beneficia alguns credores da Boi Gordo

Bens da Fazendas Reunidas Boi Gordo serão apreendidos em favor de alguns credores da empresa. Esta foi a decisão da Justiça de São Paulo, mas ainda há prazo para recurso. Para a advogada Márcia Giangiacomo Bonilha, esta decisão prejudicaria os outros credores.

Por Agencia Estado
Atualização:

Mais uma liminar (decisão provisória) da Justiça de São Paulo permitirá que alguns credores da Fazendas Reunidas Boi Gordo S.A. realizem a apreensão de animais em uma das fazendas do grupo para garantir o pagamento dos créditos de 24 investidores, que somam R$ 1,41 milhão. A empresa ainda não foi notificada e tem 15 dias para recorrer e tentar reverter a decisão. A carta precatória, uma ordem judicial encaminhada de um juiz para outro, já foi enviada à Justiça de Mato Grosso para que a liminar seja cumprida. Os credores entraram com esta ação por medo de não receberem o que investiram em virtude do processo de concordata preventiva da Boi Gordo encaminhado à Justiça do Mato Grosso em outubro. Neste caso, a ação pede a apreensão dos bens de empresas do grupo, a Uruguaiana Agropecuária Comércio de Gado Bovino Ltda. e da Casa Grande Bovino Ltda. Como estas empresas, mesmo pertencendo ao grupo, estão fora do processo de concordata, podem sofrer intervenção judicial a qualquer momento para garantir o pagamento aos credores. O mesmo não acontece com as liminares de arresto de bens que se referem à Fazendas Reunidas Boi Gordo S.A., explica o advogado e presidente da comissão de defesa do consumidor da Organização dos Advogados do Brasil (OAB), seção São Paulo, Nelson Miyahara. "As liminares diretamente referentes à Fazendas Reunidas Boi Gordo S.A. precisam esperar a decisão sobre a competência do juízo, que suspendeu a concordata em Comodoro, enquanto a Justiça decide se o processo deve ser nesta cidade ou em São Paulo", afirma. Animais precisam ser encontrados De acordo com o advogado da ação destes 24 investidores, Rodrigo Correia da Silva, do escritório Correia da Silva, Amaral e Henrique Advogados Associados, esta decisão visa a garantir o recebimento do crédito ao final da ação. "Mas é preciso achar o patrimônio da empresa primeiro", pondera. Ele afirma que, uma vez encontrados os animais, os investidores serão os depositários e deverão cuidar destes animais. Os custos de manutenção destes animais, ainda segundo o advogado, serão cobrados da própria Boi Gordo ao final do processo de concordata. No caso desta liminar, a apreensão representará custos para os autores da ação: os bois encontrados precisam ser transportados e tratados adequadamente. Além disso, a cobrança destes gastos ao final da ação, como afirmou o advogado, só acontecerá se a Boi Gordo tiver como pagar. Do contrário, mais este prejuízo ficará a cargo dos investidores, além dos créditos que têm a receber. Bens ficam bloqueados até fim da concordata Outro problema é que os autores da ação não poderão negociar estes bois, que ficarão bloqueados enquanto a concordata não for concluída. O prazo normal de concordata é de dois anos. No entanto, este prazo pode se prolongar, uma vez que a concordata foi suspensa para se discutir qual seria o juízo competente para processá-la, se a Justiça de São Paulo ou a de Comodoro, no Mato Grosso, onde o processo está hoje. É importante ressaltar também que os bois têm um prazo de engorda de 18 meses para boi magro e de 30 meses para bezerro, no final do qual devem ser vendidos. Ficar com o animal além deste prazo só aumenta os custos de manutenção. Além disso, os animais têm um período de vida útil - no qual ainda podem ser negociados facilmente no mercado - que pode ser menor que o tempo de conclusão do processo para serem liberados e leiloados. Já no caso de outros bens que podem ser arrestados, como fazendas e escritórios da empresa, mesmo que haja uma depreciação no valor, ainda podem ser negociados ao final do processo. Demais credores podem ser prejudicados A Assessoria de Imprensa da Boi Gordo informou que a empresa entrará com um recurso contra a liminar. A Boi Gordo alega também que a decisão retarda o processo e privilegia um número pequeno de credores. Isso contraria os pressupostos da própria concordata porque, neste tipo de processo, todos os credores devem ter o mesmo tratamento. Ou seja, os 25 mil credores da empresa têm o mesmo direito de receber pelo investimento. O fato de uns receberem antes pode comprometer o crédito dos outros, avalia a empresa. A advogada Márcia Giangiacomo Bonilha, do escritório Freitas e Rodrigues Advogados, também acredita que estas decisões poderiam prejudicar os demais credores que investiram na empresa. "Os bens da Boi Gordo devem servir de pagamento da dívida de todos e não de alguns credores." A advogada alerta ainda que, no caso da concordata não ser cumprida, a falência da empresa será decretada e o pagamento seguirá uma hierarquia que começa pelos créditos trabalhistas. Neste caso, os investidores serão os últimos a receber, caso ainda sobre dinheiro. Pedido de concordata no ano passado A Fazendas Reunidas Boi Gordo S.A. entrou com um pedido de concordata preventiva, em 15 de outubro, na comarca de Comodoro, no Mato Grosso. Na época, seu passivo (compromissos e dívidas) era de R$ 780 milhões e o seu ativo (bens e valores a receber), de R$ 500 milhões - uma diferença negativa de R$ 280 milhões. Ao solicitar a concordata, a Boi Gordo comprometeu-se a pagar 40% de seus débitos até o final do primeiro ano do processo e os demais 60% no final do segundo. Porém, o processo foi suspenso por um mandado de segurança solicitando que a concordata seja encaminhada à Justiça de São Paulo. A suspensão continua por prazo indeterminado até que o juiz de Comodoro julgue o mandado. Enquanto isso, a Boi Gordo ganha tempo e os investidores ficam sem previsão de quando poderão receber seu dinheiro.

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