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Kirchner chama petrolíferas de ´espertalhonas´

As declarações do presidente argentino, que causaram polêmica na capital argentina, foram feitas na véspera na cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra

Por Agencia Estado
Atualização:

"Pícaras" (espertalhonas) foi o termo utilizado pelo presidente Néstor Kirchner para definir as empresas de gás e petróleo que não realizam os investimentos que considera necessários na Bolívia. As declarações de Kirchner, que causaram polêmica nesta sexta-feira na capital argentina, foram realizadas na véspera na cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra onde reuniu-se com o presidente Evo Morales para assinar um acordo de 20 anos de exportação de gás da Bolívia para a Argentina. Em ostensivo apoio a Morales, Kirchner afirmou que se as "espertalhonas" não investirem na Bolívia, a Argentina o fará. A idéia de Kirchner é - em caso de apertos do governo de La Paz para desenvolver o setor energético - colaborar com fundos para a exploração, exportação e comercialização de gás. Kirchner também lançou um desafio: "se elas (as empresas de energia) querem ir pelos caminhos da extorsão, a Argentina ajudará (os bolivianos) a consolidar suas reservas". Após essas palavras, Kirchner foi freneticamente ovacionado pelos seguidores de Morales, que se acotovelava no estádio Gilberto Parada. As empresas de gás e petróleo costumam ser um dos "sacos de pancada" preferidos do presidente argentino. No ano passado, Kirchner convocou pessoalmente, ao vivo pela TV, um boicote contra a empresa Shell, que dias antes havia aumentado os preços de seus produtos. A empresa, acuada, cercada por manifestantes kirchneristas, teve que ceder dias depois. A própria Petrobras foi duramente pressionada por Kirchner em 2004, que exigia que a empresa financiasse do próprio bolso a ampliação de um gasoduto desde a Patagônia até a Grande Buenos Aires. De quebra, Kirchner decidiu ter sua própria empresa estatal de energia e criou a Enarsa, que até agora - na prática - não saiu do papel. A Enarsa, financiada com o generoso superávit fiscal que a Argentina conseguiu nos últimos anos, será a intermediária no financiamento de Kirchner para a Bolívia. Desta forma, a Argentina concederá à Bolívia um crédito de US$ 400 milhões, além de assistência técnica para instalar uma fábrica de separação de líquido de gás na cidade de Tarija, na fronteira com a Argentina. A fábrica produzirá gás para botijões e gasolina comum para exportar para o mercado argentino. Essas vendas proporcionariam aos bolsos bolivianos um total de US$ 7,9 bilhões ao longo de 20 anos. Além disso, Kirchner e Morales fecharam um acordo - que levou meses em ficar pronto - para o envio à Argentina de 27,7 milhões de metros cúbicos diários de gás da Bolívia, ao longo dos próximos 20 anos. Antes do acordo, a Argentina comprava da Bolívia 7 milhões de metros cúbicos diários. Para o governo Morales, o acordo com a Argentina possui um significado estratégico de peso a médio e longo prazo, pois diminui parcialmente a dependência que tem atualmente do Brasil, para onde exporta a maior parte de sua produção. O acordo também determina que o gás boliviano enviado à Argentina não poderá ser revendido a terceiros. Essa é uma política tradicional dos governos de La Paz, que não pretendem que a Argentina repasse gás para o Chile. A Bolívia sustenta que só venderá gás para o mercado chileno depois que o país vizinho aceitar conversar a respeito da reivindicação territorial boliviana sobre uma saída ao mar. Em 1881, durante a Guerra do Pacífico (travada entre o Chile e a aliança Peru-Bolívia), a Bolívia perdeu a saída para o mar que possuía, junto com o porto de Antofagasta.

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