Publicidade

Kirchner conversa com Powell antes de vir ao Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Néstor Kirchner terá a chance de demonstrar hoje qual será realmente o perfil que quer dar às relações argentinas com os Estados Unidos. Antes de embarcar hoje à noite para o Brasil, onde se reunirá amanhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Kirchner receberá o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell que vai testar os ânimos do novo presidente da Argentina. Dentro e fora do governo há o consenso de que as "relações carnais" entre a Argentina e os Estados Unidos que duraram toda a década de 90, no governo de Carlos Menem, chegou ao fim. A grande incógnita, no entanto, é se Néstor Kirchner se aproxima mais do perfil de Luiz Inácio Lula da Silva, que embora defenda a independência do Brasil em relação aos Estados Unidos, mostra-se disposto ao diálogo, ou se seu governo terá a cara de Hugo Chávez, o presidente da Venezuela que mantém um duro discurso contra o governo norte-americano e nega-se ao diálogo. As primeiras declarações de Néstor Kirchner, como candidato e presidente eleito, sempre foram no sentido de que o alinhamento automático que caracterizou a relação entre Buenos Aires e Washington desde 1989 chegou ao fim. No mesmo sentido, vem manifestando-se o chanceler Rafael Bielsa, que virá junto com Colin Powell, do Chile, onde participaram da Assembléia da Organizações dos Estados Americanos. Segundo a embaixada dos Estados Unidos na Argentina e a Casa Rosada, a agenda de Powell e Kirchner será em torno das relações bilaterais e assuntos de interesses regionais. Ambos definirão a visita que o presidente argentino fará à Washington mas nenhum dos dois lados disse claramente o que será discutido nesta reunião. Para os analistas políticos, o enviado do governo norte-americano quer testar até onde vão o discurso e o compromisso regionalista de Kirchner com Lula para reforçar o Mercosul com a integração dos países latinos, o que debilitaria o poder norte-americano nas negociações da Alca. De um lado, o presidente argentino afirmou que "com todo gosto, o receberemos como recebemos todas as autoridades, obviamente escutaremos com muita atenção o que diz o responsável da política internacional dos Estados Unidos". No Chile, Colin Powell afirmou que a "intenção é escutar o presidente Kirchner, seus planos, suas aspirações e o que ele espera fazer em seu governo". Fontes ligadas ao embaixador dos Estados Unidos na Argentina, James Walsh, dizem que Colin Powell vai propor a Néstor Kirchner um acordo comercial com seu país, sem excluir o Mercosul porque já sabe da disposição de Kirchner de defender o bloco regional. Por outro lado, fontes da Casa Rosada afirmaram que Kirchner não deixará passar em branco uma proposta deste nível sem expor sua oposição ferrenha contra os subsídios agrícolas praticados pelos norte-americanos. Dentro da agenda "aberta", deverão ser discutidos assuntos conforme o humor desta primeira reunião internacional de peso para o presidente Néstor Kirchner, a qual marcará o perfil de seu relacionamento com os Estados Unidos. Uma pesquisa da consultoria Römer & Associados, da socióloga Graciela Römer, revelou que nos últimos seis meses, o sentimento antiamericano cresceu na Argentina, de 58%, em dezembro de 2002, para 71%, em maio deste ano. O sentimento de rejeição contra os Estados Unidos vem subindo, enquanto o pró-Mercosul e as relações com o Brasil tem aumentado. Um outro estudo mostrou que, para 62% dos argentinos, o país deve concentrar esforços em seu acordo comercial com o Mercosul. Apenas 7% dos entrevistados defenderam a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e 14% pregaram uma maior integração com os países da União Européia (UE). Römer também realizou uma pesquisa mostrando que para 52% dos entrevistados a chegada de Lula ao poder terá impacto positivo na Argentina, o que mostra que o Brasil tem hoje muito mais importância para os argentinos do que os Estados Unidos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.