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Kirchner terá de adotar medidas impopulares

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente eleito da Argentina, Néstor Kirchner, já começou a sentir o peso das pressões do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao assumir o governo depois de amanhã, Kirchner e seu ministro de Economia, Roberto Lavagna, pensavam em dar início às negociações de um acordo mais amplo, para entrar em vigor depois de agosto, quando termina o atual. No entanto, o governo terá de voltar a renegociar a segunda revisão das metas do acordo assinado em janeiro passado porque a diretoria do FMI não a aprovou, como esperava e chegou a anunciar o ministro Lavagna, no início desta semana. Mas para voltar às negociações, Kirchner terá de tomar uma medida antipopular, antipática e rápida. O ponto da revisão que incomodou o FMI e colocou um freio nas negociações foi a aprovação no Congresso de uma nova prorrogação de 90 dias para as execuções hipotecárias, uma postura que o governo havia se comprometido, expressamente, em não adotar. O presidente Eduardo Duhalde preferiu lavar as mãos e deixar a decisão sobre o veto da lei nas mãos de seu sucessor. As declarações do porta-voz do FMI, Thomas Dawson, ontem, deixaram claro que o organismo quer ver sinais mais evidentes sobre a posição do novo presidente em um cenário confuso, visto pelas lentes do FMI, depois do alerta gerado em Washington pelo discurso de Kirchner criticando os grupos econômicos e os bancos, a suspensão das execuções hipotecárias, além da má disposição demonstrada por Julio De Vido, designado ministro de Planejamento e homem forte de Kirchner, para aumentar as tarifas dos serviços públicos, outro ponto exigido pelo FMI. Dawson foi taxativo ao dizer que "a revisão não foi concluída e, por isso, não foi tratada pela diretoria. Ainda há questões estruturais a serem resolvidas. Esperamos estar em contato com o novo governo e escutar quais são os passos nestas áreas", como na questão particular da suspensão das execuções. Na verdade, o que o Fundo Monetário Internacional deseja é que Néstor Kirchner esclareça bem sua posição em relação ao organismo, depois de dizer que "está demonstrado que se pode viver sem um acordo com o Fundo", há cerca de quatro dias, lembrando que a Argentina começou a melhorar seus indicadores econômicos nos momentos de maior endurecimento e reticência do FMI em relação a um acordo que demorou quase um ano para ser assinado. "O Fundo quer pronunciamentos mais claros sobre as negociações do novo governo", disse uma fonte do Ministério de Economia que faz parte das negociações internacionais. Com este objetivo, o porta-voz mencionou especificamente o caso da suspensão das execuções hipotecárias, entendendo que o veto a esta lei seria uma demonstração de boa vontade para negociar. Mais que boa vontade, é uma necessidade vital para Kirchner e Lavagna, já que ao final do atual acordo, sem um novo encaminhado, o governo terá de arcar com o pagamento de US$ 6 bilhões de dólares aos organismos internacionais, incluindo o FMI, que vencem em setembro. Fusão de órgãos de controle do sistema financeiro A reforma do sistema bancário que o novo governo argentino pretende fazer nos seus primeiros meses de mandato inclui a criação de uma figura que vai gerar muita discussão dentro e fora do governo. Néstor Kirchner quer a fusão de todos os órgãos de controle financeiro em uma só pessoa, uma espécie de super-gerente que tenha uma visão global das entidades financeiras e coordene seus funcionamentos. Nos últimos 11 anos, foram sendo criados distintos órgãos para controlar, especificamente, os bancos, fundos de pensão, companhias de seguros, sociedades de bolsa, fundos comuns de investimento, seguros de aposentadoria, etc. Com isso, cada um destes órgãos desenvolveram uma visão limitada e fragmentada do sistema, o que abriu caminho para fraudes e enganos contra o cliente e até o governo, com sonegações fiscais. Como cada sistema está subordinado a um órgão, se estima que os ciúmes e jogos de poder serão um condimento desta empreitada que estará sob a responsabilidade da equipe econômica, já que ninguém quer abrir mão de seu pequeno poder.

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