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Langoni aconselha BC a manter-se conservador

Por Agencia Estado
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A situação da economia mundial está muito confusa, com o risco de um repique recessivo na Europa e nos Estados Unidos, o que vai exigir do Banco Central do Brasil uma atuação muito conservadora para poder minimizar o impacto daí resultante. A análise é do economista Carlos Geraldo Langoni, ex-presidente do BC e diretor do Centro de Economia Mundial da FGV-Rio. Em entrevista ao programa Conta Corrente, da Globo News, ele disse, porém, não ver o perigo de uma deflação generalizada, especialmente porque os Estados Unidos têm instrumentos poderosos para evitá-la, como o corte de impostos e até mesmo reduções adicionais em sua taxa de juros. Contudo, ele vê riscos bastante sérios de o fenômeno ocorrer na Europa. A conseqüência de tudo isso, em sua avaliação, será a queda dos fluxos de capitais para países emergentes e talvez trazendo dificuldades à manutenção do volume das exportações brasileiras. "Isso exige mais cautela, mais responsabilidade, mais fundamento macroeconômico", pregou. Desvalorização do dólar Para Langoni, a desvalorização do dólar é um antídoto natural para a deflação nos Estados Unidos. Segundo ele, a desvalorização do dólar face ao euro reflete muito mais os pecados da economia americana do que as virtudes da economia européia. Lembrou, por exemplo, que ao contrário dos Estados Unidos, os países da União Européia não podem pensar em reduzir impostos, por estarem amarrados em metas fiscais rígidas estabelecidas em Maastrich, e também porque o Banco Central europeu tem de olhar para o conjunto de países da UE, e não apenas para a Alemanha, onde a recessão já assume proporções assustadoras. Déficit americano Langoni explicou que a desvalorização do dólar também deriva do déficit americano em seu balanço de pagamentos. "Acho que está acontecendo aquilo que a gente imaginava: o déficit em conta corrente de 5% do PIB, que os Estados Unidos vêm mantendo há algum tempo, é insustentável. Isso está se refletindo numa redução dos fluxos de capitais para os Estados Unidos, inclusive de capitais europeus. Há também um risco político-institucional com os ataques terroristas, que não existia antes de 2001. Portanto, tudo isso vai obrigar a um ajustamento do dólar em relação ao euro, muito mais, como eu disse, pelos pecados dos Estados Unidos do que pelas virtudes da Europa. Esperamos que esse processo seja gradual, e não drástico, para dar tempo às economias, sobretudo das empresas, para que possam adaptar-se a esse novo cenário de um euro forte e um dólar relativamente fraco." Juros atraentes Para o ex-diretor do Banco Central, o Brasil precisa manter uma taxa de juros atraente para conseguir qualquer tipo de financiamento externo, continuar caminhando para o ajuste externo, reduzindo sua dependência de fluxos de capitais, através da redução do déficit em conta corrente e apoiando, principlamente, as exportações. "Acho que a saída brasileira para conviver com esta economia instável, com estes choques externos que se repetem a cada ano, é sem dúvida manter um crescimento sustentado e acelerado das exportações." Apoio ao Copom Ao final de sua entrevista, na qual deixou claro seu apoio à decisão do Copom de manter a taxa Selic em 26,5% ao ano, Langoni parafraseou o discurso da campanha presidencial petista no ano passado: "Acho que a estabilização venceu o medo. Parabéns ao Banco Central."

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