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Legislação deve provocar alta de tarifas

Por Andrew Martin
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Os cartões de crédito têm sido, desde há muito, um excelente negócio para pessoas que pagam as contas em dia e por inteiro. Enquanto as administradoras de cartões impunham multas e tarifas punitivas para os que atrasavam os pagamentos, os melhores clientes colheram recompensas em saques de dinheiro, milhagens aéreas e outros benefícios nos últimos anos. Agora, o Congresso pretende limitar as multas a credores mais arriscados, que se tornaram fonte importante de bilhões de dólares de receita com tarifas. Para compensar a receita perdida, as administradoras de cartões vão atrás dos bons credores. Os bancos provavelmente recorrerão a tarifas anuais, reduzindo os saques em dinheiro e outros programas de premiação, e cobrando juros imediatamente após uma compra, em vez de conceder um período de graça de algumas semanas, segundo funcionários de bancos e associações comerciais. "Será um negócio diferente", disse Edward L. Yingling, o presidente executivo da American Bankers Association (ABA), que vem pressionando o Congresso por uma legislação mais leniente em favor dos maiores bancos. "Os que gerenciam bem o crédito em certa medida subsidiarão os que têm problemas." Enquanto esvaziam as fileiras de usuários de cartões arriscados para lidar com a recessão econômica, grandes bancos, incluindo American Express, Citigroup, Bank of America, já começaram a elevar taxas de juros, e alguns têm mirado os consumidores que pagam as contas em dia. A legislação aprovada ontem pelo Senado não impõe teto aos juros, por isso os bancos podem continuar a aumentá-los, ainda que num ritmo mais lento e com mais transparência. "Haverá uma precificação única e, por conseguinte, veremos que o setor ficará mais igualitário em termos de base de receita", disse David Robertson, publisher do Nilson Report, que acompanha o setor de cartões. As pessoas que pagam rotineiramente o saldo de seu cartão de crédito vêm desfrutando do equivalente a uma corrida de graça, disse ele, porque muitas não tiveram de pagar tarifa anual e somam pontos para viagens aéreas e outros benefícios. "Apesar de todas as coisas terríveis que foram ditas, vocês estão ganhando muito dinheiro", disse ele. "Um terço dos clientes de cartões de crédito, 50 milhões de pessoas, conseguiu um grande negócio." Robert Hammer, um consultor do setor, disse que a legislação poderá ter um efeito geral de encorajar administradoras de cartões a se tornarem ainda mais dependentes das tarifas tanto de clientes marginais como dos usuários de cartões com bom registro de crédito, que são chamados de deadbeats (malandros ou parasitas) no jargão do setor porque geram pouca receita com tarifas. "Eles não são organizações de caridade. Eles têm acionistas aos quais prestar contas", disse ele, referindo-se aos bancos e administradoras de cartões. "A brecha que sobrar no modelo será explorada por eles." Os bancos costumavam dar cartões de crédito somente aos melhores clientes e cobrar deles uma taxa de juros fixa de cerca de 20% e uma taxa anual. Mas, com o relaxamento das leis de usura em alguns Estados e a pronta disponibilidade de crédito no fim dos anos 1980, os bancos começaram a oferecer cartões com diferentes taxas de juros e tarifas, associando a precificação ao risco de crédito do usuário do cartão. Isso ajudou a derrubar as taxas de juros para muitos consumidores, mas elas subiram para os usuários de maior risco, que se tornaram uma fonte significativa de receita para o setor. A recente recessão econômica questionou essa fórmula e os bancos começaram a se desfazer dos clientes mais arriscados e baixar seriamente seus limites de crédito, à medida que a recessão se acelerava. Agora, um coro crescente de consumidores que saldam as contas todo mês está reclamando dos períodos gratuitos encurtados, das novas tarifas ocultas e das taxas de juros mais altas. O setor diz que as propostas obrigarão os bancos a emitir menos cartões a um custo maior para os atuais usuários. Citigroup e Capital One remeteram os comentários à ABA. Discover e American Express não quiseram comentar. *Andrew Martin é jornalista

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