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Líbia não afeta petróleo

Por ALBERTO TAMER
Atualização:

Ao contrário do que se esperava, a morte de Kadafi pouco afetou os preços do petróleo na sexta-feira. As cotações oscilaram durante o dia, mas o petróleo leve fechou em alta. O leve a US$ 87,53 e o Brent a US$ 109. No início da revolução, chegou a atingir US$ 127 em abril, quando a Líbia saiu do mercado. Isso prejudicou os países europeus porque suas empresas são as principais produtoras no país e, mais importante, as refinarias estavam adaptadas para operar petróleo leve, essencialmente líbio. À medida que a revolução avançava, os preços foram recuando. Mesmo assim não voltaram aos níveis anteriores ao início da revolta, quando estavam em torno de US$ 105. A demanda mundial se retraiu com a desaceleração econômica, os países consumidores jogaram estoques estratégicos no mercado. Os analistas do mercado de petróleo não acreditam que a produção da Líbia possa crescer muito nos próximos meses por dois motivos: primeiro, a produção da Líbia, que antes da revolta era de 1,6 milhão de barris por dia, já foi em parte recuperada. Em setembro, já estava em torno de 400 mil b/d. As previsões mais otimistas são de que possa chegar até o fim do ano no máximo a 600 mil barris por dia. Mesmo assim, não devem influenciar muito as cotações internacionais porque a maior parte está sendo consumida no mercado interno. IEA cética. O ceticismo quanto à retomada da Líbia foi refletido pela Agência Internacional de Energia. "Nós ainda achamos que poderá levar muitos meses para a produção recuperar os níveis pré-crise. Muitos desafios logísticos, operacionais e de segurança permanecem (...), por isso, não estamos mudando nossas premissas sobre a recuperação da produção líbia por enquanto", afirmou ao site do Wall Street Journal David Fyfe, analista sênior de mercados de petróleo da AIE. Outro fator é a desaceleração da economia mundial. Isso pode mudar, mas apenas ligeiramente.Mas por que o preço do petróleo até aumentou no dia seguinte à morte de Kadafi, quando deveria ter recuado? A explicação pouco sustentável de alguns analistas era de que Sarkozy e Merkel adiaram uma solução para a crise da União Europeia para quarta-feira, mas irão aprová-la antes da reunião de cúpula nos dias 3 e 4 de novembro. A economia mundial não vai se retrair ainda mais no próximo ano. Ajudou também o fato de que o FMI, o Banco Central Europeu e os países da Eurozona confirmaram a liberação nos próximos dias de US$ 8 bilhões para a Grécia, valor que pode ser aumentado. Era essa, pelo menos, a sensação do mercado neste fim de semana. E mesmo que nada se altere, a demanda de petróleo deverá ser sustentada pelos países emergentes, mantendo o equilíbrio atual, conforme divulgou a Agência Internacional de Energia na semana passada. Líbia, quem explora? Terminada com sucesso a revolução, o Conselho de Transição enfrenta um novo problema para recuperar a produção de petróleo, que representa 95% das exportações nacionais. Que destino dar aos contratos firmados com as empresas que operavam no país? Vai renová-los? E as concessões permanecem válidas? A questão é como redistribuir a produção de petróleo, que está agora sob encargo do governo provisório, por meio da sua empresa estatal, a Companhia Líbia de Petróleo. As reservas atuais são de 60 bilhões de barris, mas há áreas altamente promissoras. Uma comissão foi criada há meses para avaliar caso a caso. E vai levar tempo. Vai custar mais. Enquanto isso, afirma John Hamilton, coordenador do Relatório Anual de Energia da Africa, pouco se pode esperar. "A partir de agora, cada 100 mil barris de petróleo por dia será mais difícil de extrair e levará mais tempo". Muito investimento terá de ser feito para recapitalizar os campos e muito há ainda por resolver entre o governo provisório e as empresas já antes estabelecidas na Líbia. Assim se prevê que dificilmente a Líbia volte a produzir 1,6 milhão de barris por dia e venha a derrubar as cotações no mercado internacional nos próximos meses. A não ser que a Opep decida intervir convocando reunião extraordinária para aumentar a produção, o que parece pouco provável, pois os países do Oriente Médio ainda não se refizeram da revolta do mundo árabe.

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