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Lição do futebol para a economia americana

EUA precisam aproveitar mais potencial dos imigrantes para se recuperar da última crise, como fez o técnico da seleção americana

Por Jim Tankersley
Atualização:

Os jogadores dos Estados Unidos lutaram durante 70 minutos, com chutes certeiros, passadas diretas para a defesa, permitindo que um adversário conhecido por sua debilidade conseguisse finalizar o jogo em 0 a 0. Foi o que ocorreu em 27 de maio, no primeiro dos três jogos disputados pela equipe de futebol dos EUA antes da Copa do Mundo, contra o Azerbaijão que parecia sombrio. Então o técnico dos Estados Unidos fez o que muitos empreendedores no Vale do Silício fazem quando precisam de uma injeção de talento: convocou alguns estrangeiros. Primeiramente convocou Mix Diskerud, meio de campo nascido e criado na Noruega. Bastaram quatro minutos para ele entrar no gramado e dominar o jogo, receber uma bola dividida e chutar direto para o gol. Seis minutos depois, Aron Johannsson, atacante que cresceu na Islândia, cabeceou e marcou mais um gol. Os americanos venceram por 2 a 0. Essa é uma lição para a economia americana. Numa época em que o país luta para se livrar dos danos persistentes da Grande Recessão, quando o crescimento permanece lento e 10 milhões de pessoas estão em busca de trabalho, mas não conseguem um emprego, os EUA poderiam usar o manancial de imigrantes altamente qualificados. É o que costuma dizer sempre o pessoal de alta tecnologia na Califórnia. A equipe dos Estados Unidos na Copa do Mundo pode ajudar a compreender o que eles querem dizer - e, pelo menos em parte, porque é tão difícil para nossos legisladores concordarem com eles. A Copa do Mundo teve início na semana passada no Brasil. A equipe dos Estados Unidos na Copa é um verdadeiro cadinho, com sete jogadores com dupla nacionalidade: Diskerud, cuja mãe é americana; Johannsson, que nasceu no Alabama de pais islandeses que estudaram nos Estados Unidos; cinco jogadores nascidos na Alemanha com pai ou mãe americanos. O técnico Jurgen Klinsmann é alemão. Outros jogadores importantes são Clint Dempsey, Tim Howard, Michael Bradley e Jozy Altidore. Todos eles jogaram profissionalmente em ligas de elite europeias. Isso é importante porque os EUA não são uma potência no futebol. Ao transpor as fronteiras, a equipe americana efetivamente importou talentos valiosos cuja capacidade aumentou por terem participado de programas de desenvolvimento da juventude na Europa ou competindo com grandes jogadores do mundo numa liga europeia. Diskerud, por exemplo, exibiu uma técnica habilidosa nos passes no jogo contra o Azerbaijão, algo raro entre seus colegas de equipe nascidos nos Estados Unidos. Bradley, o mais criativo centroavante do time, aperfeiçoou suas habilidades na Holanda, Alemanha e Itália antes de retornar ao futebol americano este ano. "Você usa toda a sua experiência como jogador", disse ele numa entrevista rápida em San Francisco. "Tenta trazer tudo o que aprendeu e ser útil aqui". A importação de talentos é útil para a economia como um todo também. Um gráfico feito pela Bloomberg Businessweek mostra o quanto de talento o Vale do Silício - a capital da inovação do país - importa de todo o globo. Um relatório recente do McKinsey Global Institute sugere que as pessoas representam os maiores ganhos não realizados da globalização. E, basicamente, quanto mais indivíduos talentosos conseguirmos reunir, melhor concorreremos com outros países. Americanos nascidos no exterior têm 50% mais de probabilidade de abrir uma empresa do que os americanos nativos, disse Susan Lund, pesquisadora da McKinsey. Segundo ela, globalmente "a próxima era (de crescimento) será dominada pela pergunta: "onde estão os trabalhadores especializados?". O contra-argumento é esse: os trabalhadores estrangeiros não vão tirar o emprego dos americanos? Diskerud, por exemplo, veste a camisa 10 da equipe dos Estados Unidos - número que ficou disponível quando Klinsman cortou Landon Donovan, nascido na Califórnia, sem dúvida o mais famoso jogador de futebol americano de todos os tempos. Os fãs ridicularizaram o técnico pela decisão. Felizmente não há um número limitado de locais na lista quando se trata da economia americana. Os empreendedores imigrantes talentosos criam empregos, não insistem para diminuir os salários dos engenheiros do Vale do Silício, que subiram vigorosamente desde o fim da recessão. Os EUA sofrem com uma escassez de empreendedorismo no momento. Poderíamos partir em busca de sangue novo. / Tradução de Terezinha Martino

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