Atualizado às 15h58
BRASÍLIA - Líderes do Comando Nacional do Transporte (CNT) chegam a Brasília na noite desta terça-feira, 10, para tentar iniciar um diálogo com o governo federal sobre a greve dos caminhoneiros, deflagrada na segunda-feira. A tentativa de negociação vai de encontro ao que foi falado ontem pelas lideranças do movimento, quando afirmaram não querer nenhum tipo de contato com o governo.
Segundo o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), foi solicitada uma audiência com o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, na qual ele receberia esses representantes. "A preocupação é de que essa manifestação não se torne autofágica, com um setor prejudicando o outro e derrubando uma economia que já está combalida", afirmou, após participar de uma reunião com Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para tratar do tema.
Parlamentares têm tentado negociar com os caminhoneiros os termos da paralisação para tornar o movimento menos radical. O entendimento é o de que a demanda deles dificilmente será atendida pelo governo federal, além de se tornar impossível um canal de diálogo enquanto o impeachment da presidente Dilma Rousseff estiver na pauta.
Goergen afirmou que, caso ocorra a reunião na Casa Civil, não se tratará de uma negociação, mas uma conversa. "Quando Miguel Rosseto (Ministro do Trabalho e Previdência) conduziu as negociações em março deste ano, nada foi cumprido", afirmou o deputado. "A pauta dos caminhoneiros já existe e não foi cumprida. Se o governo não cumprir, que diga e assuma as consequências", disse.
O deputado do PP afirmou ainda que apresentará ainda hoje, na Comissão de Agricultura da Câmara, requerimento para convocação dos ministros Jaques Wagner e José Eduardo Cardozo (Justiça) a prestarem esclarecimentos sobre a aplicação de punições aos caminhoneiros grevistas e sobre o andamento das negociações com os trabalhadores.
O presidente da FPA, o deputado Marcos Montes (PSD-MG), disse que a bancada se reuniu com representantes do setor produtivo durante um almoço nesta terça-feira (10), em Brasília. "Tivemos uma conversa com entidades do setor produtivo e eles externaram a situação, que é de paralisia com a greve", relatou.
'Sem contato'. Em entrevista concedida ontem ao Estado, Ivar Luiz Schmidt, o líder do CNT disse que, a princípio, não há interesse em negociar com o governo federal e que o principal objetivo é derrubar a presidente Dilma Rousseff. “Entregamos uma pauta para o governo em 4 de março e, em oito meses, o que foi atendido é irrelevante. Por causa disso, e do clima em que se encontra o País, com inflação elevada e aumentos consecutivos dos combustíveis e da energia elétrica, achamos por bem pedir a renúncia da presidente. Não acreditamos mais que ela seja capaz de conduzir o País para fora do abismo no qual se encontra.”
O caminhoneiro Fábio Luís Roque, outra lideranças do CNT, havia dito na segunda-feira que o grupo não pretendia estabelecer nenhum tipo de diálogo com o governo federal para levar reivindicações dos transportadores autônomos a Brasília. "Não queremos contato", disse.
Roque é caminhoneiro da cidade de Santa Rosa, no noroeste do Rio Grande do Sul. Segundo ele, a paralisação é por tempo indeterminado e não tem volta. "Ou ela (Dilma) renuncia ou vai para o impeachment. Daí sim, quando o governo que está agora sair, vamos começar a tratar da nossa pauta", afirmou.