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LÍDERES JÁ ADMITEM 'DIVIDIR' A EUROPA

Por GENEBRA
Atualização:

Diante da realidade que se impõe, líderes europeus não escondem a ideia de promover de forma institucional uma divisão na Europa. Nesta semana, em artigo publicado na revista Le Point, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy apresentou seu projeto de criar uma Europa a duas velocidades. Sarkozy, que poderia voltar a se candidatar à presidência francesa em 2017, deixa claro que quer uma redução das atribuições da União Europeia, que deveria concentrar seu trabalho apenas na agricultura, energia, comércio e leis de concorrência. "Não existe uma Europa, mas duas", escreveu. "Na zona do euro, precisamos parar de acreditar no mito de que todos têm direitos iguais entre seus membros."O que ele sugere é a criação de uma "grande zona econômica franco-alemã no coração da zona do euro que nos permitirá melhor defender nossos interesses". Juntas, as duas maiores economias do bloco representam 44% da população e, para Sarkozy, a fortaleza do euro depende do bom desempenho dessas duas economias. Mas a realidade é que até mesmo entre a França e Alemanha a disparidade econômica se aprofundou durante a crise. Desde 2005, a economia alemã cresceu 11,6%. Na França, a taxa foi de meros 5%. A taxa de desemprego na Alemanha é de apenas 5,5%. Na França, ela bate a marca de 10,4%. O governo alemão tem contas em dia. Já na França, o déficit no orçamento ainda preocupa a Comissão Europeia. Fora da zona do euro, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, é outro que pede para rever a participação do Reino Unido no bloco e rejeitar uma união ainda mais profunda. "Os empresários acham que o grau de interferência europeia nos nossos negócios é excessiva", escreveu Cameron, em março. "As pessoas estão preocupadas que sejamos sugados para um Estados Unidos da Europa e isso não é o que queremos." Em 2017, Cameron quer promover um referendo para decidir que relação Londres deve manter com as demais capitais europeias. Pela metade. Nem todos pensam dessa forma. Para analistas, o que levou a Europa à crise foi justamente o fato de ter criado uma união pela metade, sem a coragem de estabelecer todos os mecanismos de coordenação monetária. Em Bruxelas, a liderança política do bloco rejeita a tese de que a crise enfraqueceu a UE. "A nossa resposta obrigou-nos a mais solidariedade e obrigou a Europa a rever os próprios mecanismos de governança econômica. A melhoria da situação na Europa tem de ser continuada, através de reformas estruturais e do aprofundamento do nosso mercado interno para dar mais competitividade às nossas economias", declarou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso ao Estado. Várias medidas começaram a ser tomada para aprofundar o bloco, como a união bancária, uma atitude mais enfática do Banco Central Europeu e uma reforma que está sendo planejada para ocorrer nos próximos anos. Ainda assim, os documentos internos admitem que a união passa por um momento crítico. "Estamos numa encruzilhada econômica e política", admitiu Algirdas Šemeta, comissário responsável pelo Mercado Único da UE. "Atualmente, nos confrontamos com dúvidas crescentes sobre a relevância econômica da UE, seu significado político e seu papel internacional", escreveu. "Estamos vendo alguns membros questionando os méritos de fazer parte da UE e, de forma sem precedentes, alguns candidatos a fazer parte do bloco estão fazendo o mesmo." Sua receita também vai na direção de duas Europas. Mas a forma de apresentar isso é diferente. "Precisamos ter uma 'via rápida' para aqueles governos que querem se integrar de forma mais rápida", apontou. "Isso vai nos levar a uma Europa mais fragmentada? Não acredito. De fato, essa será a forma de preservar nossos valores unidos e aliviar a tensão que surgem das necessidades nacionais de cada país.""A Europa passa por um período de autoanálise e mudança. Mas isso não é por si uma coisa boa ou má. Tudo vai depender do que faremos com isso", completou.

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