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Lobby uniu sindicatos e empresas

Instituto Brasileiro de Siderurgia questiona comparação do preço de produção no Brasil ao da China e da Ucrânia

Por Paula Pacheco
Atualização:

Foi preciso acumular muitas milhas em viagens a Brasília, fazer a via-sacra em gabinetes de políticos e de funcionários do governo, passando pelo chefe de gabinete do presidente da República e do próprio Lula até encerrar, ao que parece, uma briga que se arrastava há meses. O lobby, que incluiu empresários e entidades que representam as siderúrgicas, bateu às portas de deputados e senadores e chegou às centrais sindicais. Até que a indústria siderúrgica brasileira conseguiu a intervenção do governo para criar barreiras ao aço estrangeiro no País. Passada a fase do corpo a corpo, a dúvida é saber se os produtos siderúrgicos importados perderão a atratividade em relação à mercadoria nacional. A bobina a quente estrangeira, por exemplo, custava entre US$ 400 a US$ 450 até agora. Passará a ser vendida, segundo cálculos de empresários do setor, de US$ 550 a US$ 600. A bobina nacional custa mais, US$ 700. Uma das esperanças dos consumidores do aço é que a indústria nacional reduza os preços para afastar de vez o fantasma do produto chinês e ucraniano, principais ameaças à mercadoria brasileira. Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), critica a comparação entre os preços do aço nacional e do importado. "Como comparar preço com realidades tão diferentes? Estamos falando de países do Leste Europeu e da China cujas empresas, todas estatais, não têm compromisso com os investidores e com empregos. Aqui a opção foi desligar seis alto-fornos em vez de partir para a carnificina no mercado internacional. Não me venham comparar preço", afirma Lopes. Apesar de as empresas do setor terem conseguido voltar a uma situação vista até 2005, quando todos os produtos siderúrgicos importados eram taxados, ainda é difícil trabalhar com um prazo para a recuperação da atividade. Hoje gigantes como Companhia Siderúrgica Nacional, Companhia Siderúrgica de Tubarão, Gerdau e Usiminas trabalham com cerca de metade da capacidade de produção instalada. Os pedidos do exterior caíram, a atividade interna retraiu e muitas demitiram. Os especialistas acreditam que este seja o momento mais grave da atividade no País. De cinco alto-fornos, a Usiminas desligou três. A CSN mantém um em operação e tirou outro de atividade, assim como fizeram a CST e a Gerdau. Carlos Jorge Loureiro, presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), prefere fazer a conta oposta: "Com o alto nível de ociosidade, há menos perspectivas de aumento de preço". Desde o início da crise, o valor dos produtos siderúrgicos já haviam caído de 20% a 30%. Força Sindical e Central Única dos Trabalhadores (CUT) entregaram há dez dias um pedido ao presidente Lula para que produtos siderúrgicos fossem excluídos da Lista de Exceções da Tarifa Externa Comum do Mercosul, a TEC. Lula garantiu que atenderia empresas e trabalhadores, mas pediu na ocasião o compromisso de que não houvesse mais demissões, o que ficou fora das discussões. O governo zerou o imposto de importação de parte dos produtos siderúrgicos, quatro anos atrás, num momento em que a produção nacional não dava conta de atender a demanda. O consumo interno e internacional estava tão aquecido e atender a todos os pedidos apresentava dificuldades. A crise econômica global mudou a curva e países superofertados, como China e Ucrânia, passaram não só a exportar para empresas do setor automotivo e de bens de capital do Brasil como a abastecer tradicionais compradores da mercadoria nacional, em especial a América do Sul. Presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva gostou da decisão do governo, mas até ontem ainda tinha dúvidas se toda a lista apresentada pelas centrais havia sido contemplada. "A medida mostrou que o governo estava sensível ao problema, mas queremos checar com os sindicatos que pertencem à nossa base se algum produto ficou de fora e, se for necessário, retomar as negociações com o governo", explica.

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