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Lula ameaça ''rigor'' contra crédito curto

Bancos escolhem clientes de até oito estrelas para conceder empréstimos e desprezam os outros, diz presidente

Por Fabiana Cimieri
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem o fato de a liberação de reservas do compulsório não ter conseguido atingir o objetivo de baratear o crédito do sistema financeiro. Em discurso, o presidente disse que a escassez e o encarecimento atual do crédito criam uma situação temerária e obrigam o governo "a agir com mais rigor". Foi o crédito caro o motivo pelo qual, segundo Lula, a Petrobrás recorreu aos recursos da Caixa. Em outubro, a estatal contraiu financiamento de R$ 2 bilhões na Caixa. "Disponibilizamos US$ 100 bilhões das reservas do compulsório. Acontece que esse dinheiro chega ao banco - e esses são dados de uma reunião que tive ontem (anteontem) com o (presidente do Banco Central, Henrique) Meirelles e o (ministro da Fazenda) Guido (Mantega) e que agora nós vamos começar a discutir mais profundamente -, e como tem pouco dinheiro no sistema financeiro, fica mais caro, porque o banco escolhe clientes seis, sete, até oito estrelas. Até empresas clientes do banco têm dificuldade para pegar dinheiro", disse Lula. Lula também reclamou das financiadoras de empresas automobilísticas, um dos setores estratégicos para o governo. As condições de compra para o consumidor pioraram mesmo depois das medidas. Nos últimos 30 dias, a taxa de entrada dos financiamentos aumentou de 20% para 30% e o número de prestações, que já chegou a 90 meses, está em menos 60."Em vez de facilitar, dificultou a compra do carro. São problemas que vamos ter que tratar com muito carinho, senão não vai sobrar dinheiro para as pessoas irem para o cinema", disse. REMÉDIO O presidente comparou a promessa do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, de criar 2 milhões de empregos até 2011 com a realidade brasileira, em que foram criadas 2,149 milhões de vagas de trabalho neste ano."Imagine se um de vocês fosse médico e atendesse um paciente doente. O que vocês falariam? Vamos dar remédio ou: Sifu...?", comparou Lula. Para Lula, a repercussão da crise mundial está fazendo com que os trabalhadores reduzam o consumo e esse freio, em sua avaliação, pode provocar uma recessão. Ele citou como exemplo um trabalhador de fábrica, que poderia usar o 13º salário e férias para comprar um carro usado. Como as condições de mercado pioraram e ele teme perder o emprego, acaba preferindo não consumir o bem. "É preciso alguém dizer que ele vai perder o emprego exatamente por não comprar." Em seu discurso, que durou 45 minutos, um dos mais longos desde o início da crise financeira, Lula disse estar se sentindo como Dom Quixote, sozinho, tentando pregar o otimismo. Ele contou ter ligado ontem para o presidente da Vale, Roger Agnelli. A empresa demitiu 1.300 funcionários anteontem. "Liguei para o Roger e falei: quero saber porque você mandou 1.200 trabalhadores embora. Quero saber qual é a crise". Num momento que provocou risadas na platéia, Lula comparou o mercado a um filho adolescente: não precisam de pai ou de mãe, fazem o que querem e pegam o dinheiro dos pais. Mas quando ficam doente, querem colo."Quando o mercado tem uma dor de barriga, e nesse caso foi uma diarréia braba, quem é chamado? O Estado, que eles negaram por 20 anos", criticou o presidente, voltando a afirmar que o governo não irá contingenciar "nem um centavo" do que está comprometido com investimentos.

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