PUBLICIDADE

Lula cobra presidente da Vale por demissões

Empresa não descarta novos cortes de empregos

Por Fabiana Cimieri e
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou diretamente do presidente da Vale, Roger Agnelli, o motivo das 1,3 mil demissões anunciadas pela companhia. "Eu liguei para o Roger e perguntei o que tinha acontecido. Ele me falou que todos os demitidos trabalhavam no escritório e que as demissões ocorreram por conta de inovações tecnológicas", disse Lula, em discurso feito para uma platéia de cineastas e produtores de cinema no Rio. Ainda segundo Lula, Agnelli teria reclamado que "a imprensa não menciona que, apesar das demissões, a Vale contratou 6 mil trabalhadores este ano". O presidente completou dizendo que recomendou ao executivo que a Vale não deveria ficar "só vendendo minério de ferro". "Tem de vender produtos com valor agregado, fazendo o processo de transformação aqui dentro, gerando os empregos necessários." Em São Paulo, em um evento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Agnelli disse, porém, que a Vale não descarta novas demissões no curto prazo. "Espero que não seja necessário, mas se for, vamos fazer ajustes. Continuamos fazendo ginástica para evitar demissões, porque as pessoas são o maior ativo de uma empresa", disse. Apesar de tudo, o executivo declarou que a Vale poderá voltar a contratar em 2009. Segundo ele, a empresa precisará de trabalhadores em seus novos projetos que entrarão em operação, uma vez que os investimentos de longo prazo não foram cancelados. "Poderemos contratar no ano que vem'', disse. A Vale investirá US$ 14 bilhões em 2009, depois de aportes de US$ 11 bilhões neste ano. Ele destacou que, em 2008, o saldo de contratações da Vale será positivo em 5 mil pessoas. Agnelli defendeu a teoria de que o governo deve agir para minimizar os efeitos da crise mundial sobre o Brasil. "Imaginar que ela não afetará o Brasil é uma irresponsabilidade. Mas existem ações que podem minimizar seus efeitos, disse. Entre as principais iniciativas defendidas pelo executivo estão investimentos em infra-estrutura, especialmente em portos, energia elétrica, ferrovias, rodovias e no transporte urbano. "Este seria um investimento social, que beneficiaria rapidamente a sociedade como um todo", disse. Ele lembrou o elevado déficit habitacional no País e defendeu o lançamento de um programa agressivo para construção de casas populares, com o objetivo de aumentar o consumo de matérias-primas e absorver empregos de outras áreas. "Todo o dinheiro que está parado de forma ineficiente tem de ser movimentado", disse. ?NORMALIDADE? Agnelli disse acreditar que a economia mundial voltará à "normalidade" em cerca de dois a três anos. Segundo ele, a retomada será impulsionada pelo grande contingente de pessoas que entraram no mercado de consumo nos últimos anos em países emergentes, em especial Brasil, Rússia e China. "O otimismo anterior à crise era insustentável, assim como o atual pessimismo é insustentável", disse o executivo. "Tem mais gente consumindo, o mundo não acabou nem vai acabar." Além de Agnelli, participaram do evento do Iedi os empresários Ivoncy Ioschpe e Miguel Etchenique, conselheiros do instituto, e os economistas Julio Sérgio Gomes de Almeida e Claudio Fristack. Eles destacaram a importância de se manter os investimentos no pré-sal, mesmo com a queda nas cotações internacionais do petróleo. Agnelli e Ioschpe defenderam o corte de impostos para incentivar o consumo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.