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Lula comenta dificuldade de unir países em desenvolvimento

"Temos parceiros que pensam diferente, adversários e gente que quer negociar de forma privilegiada com outros e não conosco", afirmou o presidente

Por Agencia Estado
Atualização:

Em tom de desabafo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu a dificuldade em unir os países em desenvolvimento para fazer frente à Comunidade Européia e aos Estados Unidos. Ao receber nesta terça-feira o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, no Palácio da Alvorada, ele fez críticas indiretas a países como Uruguai, que querem negociar acordos de livre comércio com os americanos. "Temos parceiros que pensam diferente, adversários e gente que quer negociar de forma privilegiada com outros e não conosco", disse. Lula avaliou que as nações em desenvolvimento poderiam ter mais poder de decisão nos fóruns econômicos e políticos se estivessem unidos. "Se os países do sul e emergentes se unificassem, nós poderíamos mudar a geografia econômica e comercial do mundo", afirmou. "Certamente não será fácil." No discurso de recepção ao primeiro-ministro indiano, Lula ressaltou que pretende aproximar a Índia também de vizinhos como Uruguai e Paraguai, que dizem estar sendo prejudicados nas negociações do Cone Sul. Diante de ministros brasileiros e indianos e presidentes de estatais dos dois países, no saguão de entrada do Alvorada, Lula destacou que, desde a posse dele, em 2003, defende maior intercâmbio entre os países do sul, especialmente a Índia, onde esteve em 2004. "Desde então temos trabalhado intensamente em diversas frentes para aprofundar nossa aliança política e econômica, que decidimos agora elevar à condição de parceira estratégica", disse. "Estamos conscientes de que nosso potencial é ainda muito maior." O presidente ressaltou que o Brasil é o maior parceiro comercial dos indianos na América Latina. Números apresentados por Lula indicam que o comércio entre os dois países não passava de US$ 400 milhões anualmente no final da década de 90. Em 2005, o comércio total chegou a US$ 2,3 bilhões. "Brasil e Índia também estão lado a lado nas negociações da OMC", salientou. "Nossa ação conjunta, na criação do G-20 (grupo dos países em desenvolvimento), modificou a dinâmica das negociações comerciais", acrescentou. "Passamos a falar de igual para igual com os países mais ricos." No discurso, Lula destacou também os desafios do Brasil e da Índia na garantia da segurança e no combate à fome e à pobreza. Ele ainda ressaltou os esforços dos governos dos dois países para mudar a estrutura do Conselho de Segurança das Nações Unidas e garantir novos parceiros comerciais. "Queremos ser um país que olhe o planeta Terra como um todo e não ficar apenas com os parceiros tradicionais, como Europa e Estados Unidos", disse. "Estamos trabalhando com afinco para provar que nossa diversidade cultural não é algo que nos distancia", acrescentou. "Pelo contrário, é um trunfo e uma riqueza que nos faz sentir parte de um mesmo projeto." Doha Lula disse confiar na retomada das negociações da rodada de Doha. Ele avaliou que, apesar dos entraves, os países em desenvolvimento conseguiram forçar mudanças nas relações com o mundo desenvolvido. "A recente reunião do G-20 no Rio de Janeiro, que foi muito positiva, mostrou que, apesar da suspensão das negociações, existe uma forte união entre os países em desenvolvimento e também espaço para iniciativas que ajudem a desbloquear as negociações", afirmou. África do Sul O ministro do Comércio e Indústria da África do Sul, Mandisi Mpahlwa, afirmou nesta terça que Índia, Brasil e África do Sul têm economias com grande complementaridade e não podem perder as oportunidades de expandir as relações comerciais. Na abertura do 1º Encontro Empresarial do grupo Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), Mpahlwa disse que os três países não estão tirando benefício dessa complementaridade e, por isso, o comércio trilateral é ainda muito pequeno. "A iniciativa do Ibas não é só uma integração entre governos, mas também para empresas", afirmou. Segundo o ministro, a criação desse "bloco gigante" abre espaço para que os três países ocupem conjuntamente nichos de mercado internacionais, como nas áreas aeroespacial e farmacêutica. "Se fizéssemos juntos as coisas que hoje estamos fazendo individualmente, teríamos resultados muito mais rápidos", argumentou. "Não somos só concorrentes. Há áreas em que podemos cooperar", disse. O ministro do Comércio e Indústria da Índia, Kamal Nath, destacou, durante o encontro, que a geografia e as distâncias não ditam mais as regras comerciais . "Há 15 anos, quando estive aqui, o Brasil parecia tão distante", lembrou, ressaltando que o desafio, agora, no mundo globalizado é ampliar a cooperação Sul-Sul entre os três países, expandindo o comércio trilateral e atuando conjuntamente para eliminar as barreiras comerciais.

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