PUBLICIDADE

Lula defende novos recursos para reaquecer a economia

Por LEONENCIO NOSSA E TÂNIA MONTEIRO
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não demonstrou ânimo em relação à eficácia do pacote econômico apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que prevê um aporte de US$ 1 trilhão para compra de ativos considerados "tóxicos". "Se o Obama tomou a decisão pensando no melhor para os Estados Unidos, ótimo. Espero que dê certo", disse. "Mas acho que não podemos usar o pouco dinheiro que nos resta para comprar títulos que aqui chamamos de podres", completou.Em entrevista ao lado do primeiro-ministro britânico Gordon Brown, Lula disse que é preciso colocar recursos novos, se houver, no mercado para reaquecer a economia. "Se o dinheiro colocado pelo Obama voltar para o mercado, ótimo. Não sei se vai vir. O que o Estado deve fazer é colocar esses títulos podres nos arquivos, transformá-los em peça de museu e, se tiver dinheiro novo, colocar no mercado", afirmou. "É preciso fazer voltar fluir o crédito e, até agora, as medidas tomadas não ajudaram no crédito", completou.Lula disse que espera que Obama, na reunião do G-20 em Londres, apresente o plano. Ele disse que a decisão do presidente norte-americano é soberana e deve ser respeitada. Ele observou ainda que entre os problemas que precisam ser enfrentados no mercado interno é o spread bancário. "Subiu demais", disse.O primeiro-ministro Gordon Brown evitou críticas ao plano de Obama e fez comentários num tom amistoso. "É um bom sinal que, uma semana antes do G-20, o governo Obama tenha se posicionado sobre os ativos tóxicos", disse.Decisões políticasLula disse que as decisões políticas neste momento de crise são mais importantes que as econômicas. "Ele (Gordon Brown), outros líderes mundiais e eu sabemos que o momento exige decisões políticas profundas mais fortes que decisões econômicas que viermos a tomar", afirmou. Lula reforçou que a crise financeira internacional foi causada e fomentada por "gente branca, e de olhos azuis", numa referência a especuladores estrangeiros, de países do primeiro mundo.Em declaração à imprensa, no Palácio da Alvorada, o presidente voltou a defender a regulação do sistema financeiro internacional. "Não é possível uma sociedade em que você entra no shopping ou no aeroporto e é filmado, sempre vigiado, e o sistema financeiro não ser vigiado e não ter uma regulação", afirmou.Para o presidente, a crise financeira é uma febre que atinge todos os países. Ele defendeu maior participação do Estado na busca de melhorias para a sociedade. "É preciso que o sistema financeiro se reeduque e trabalhemos para incentivar o setor produtivo", afirmou. "Temos consciência de que é preciso fortalecer as instituições de financiamento", acrescentou.Lula disse que Gordon Brown já é um "amigo" do Brasil e de seu governo, desde 2003, quando o britânico era ministro da Economia. "Recordo sempre dos momentos mais difíceis, quando tomamos posse em 2003. Gordon Brown, como ministro da economia, foi um parceiro para ajudar o Brasil naqueles momento difíceis e de incertezas, sobretudo para ajudar o Brasil a ganhar credibilidade internacional", disse.PreconceitoO presidente Lula rebateu afirmações de que haveria questões ideológicas nas suas avaliações sobre a crise financeira mundial que, segundo ele, teria sido causada "por louros de olhos azuis". "Não existe questão ideológica, existe um fato que mais uma vez percebe-se que a maior parte dos pobres que sequer participava da globalização estava sendo uma das primeiras vítimas da crise. O preconceito que vejo é contra os imigrantes nos países desenvolvidos", afirmou o presidente na entrevista junto com Gordon Brown.Lula citou que no Brasil o governo decidiu regulamentar a permanência dos bolivianos. "Porque não se pode jogar nas costas deles a responsabilidade de uma crise que foi causada por poucos". E completou: Não conheço nenhum banqueiro negro ou índio. Só posso dizer que as pessoas desta parte da humanidade foram as maiores vítimas do mundo e elas não podem pagar por isso".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.