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Lula defende Venezuela no Conselho de Segurança da ONU

Presidente brasileiro manifestou o apoio na solenidade que marcou a entrada da Venezuela no Mercosul

Por Agencia Estado
Atualização:

Num discurso em que chamou o líder venezuelano Hugo Chávez de "querido companheiro" e o colombiano Evo Morales de "meu amigo", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saudou nesta terça-feira a entrada da Venezuela no Mercosul e pela primeira vez apoiou publicamente a candidatura do país para uma vaga rotativa no Conselho de Segurança das Nações Unidas. "Nas Nações Unidas e na OMC somamos nossas vozes para ajudar a modificar as regras e procedimentos que não respondem aos interesses de nossa região", afirmou. Lula foi aplaudido de pé ao pedir a redução das assimetrias no bloco sul-americano, que enfrenta uma de suas piores crises. Ele defendeu mecanismos que melhorem o comércio entre os países do bloco, facilitando as exportações das economias menores. Sustentou, também, que são necessários mais investimentos que fortaleçam a produção. "Nós não vamos encontrar uma solução para o Mercosul se ficarmos jogando a culpa dos nossos problemas nas costas dos outros", disse. O pronunciamento de Lula pregando o resgate dos princípios que nortearam a criação do Mercosul, foi feito um dia depois de o presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, escancarar as divergências entre os parceiros e chamar o Brasil e a Argentina de "egoístas e hipócritas". Duarte chegou a ameaçar tirar seu país da aliança caso brasileiros e argentinos não ponham um ponto final nas práticas "protecionistas" que permitem acordos de comércio bilateral com países fora do Mercosul. "Se não há alternativas para nossa economia melhorar e para diversificar nossos mercados a fim de sermos competitivos, qualquer um de nós pode desconectar o respirador que mantém o Mercosul vivo", afirmou o presidente do Paraguai, que reivindicou ajuda para pagar uma dívida de US$ 19 bilhões com a Itaipu. Suas declarações, publicadas no jornal britânico Financial Times, causaram forte reação em Caracas. Após encontro reservado com Duarte, no Palácio Miraflores, Chávez anunciou que a Venezuela comprará US$ 100 milhões em bônus do Paraguai. "Temos falado de uns US$ 100 milhões como uma linha de crédito para comprar bônus, seja do Tesouro paraguaio ou da instituição financeira", declarou ele, ao lado de Duarte. A despeito da crise, Lula afirmou que a entrada da Venezuela dá "novos horizontes" e confere uma "dimensão continental" ao Mercosul. Ele rebateu as avaliações que a entrada de Hugo Chávez no bloco azedará as relações com os Estados Unidos - alvo de pesadas críticas do líder venezuelano. "Ninguém vai importar ou vender ideologias: nós vamos trocar experiências científicas e tecnológicas, trocar produtos", afirmou Lula. Além dos presidentes de Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, também participou da cerimônia o presidente da Bolívia, Evo Morales, que recentemente entrou em choque com o Brasil ao colocar seu exército em frente às refinarias da Petrobrás. No momento, a Petrobrás negocia novos preços para o gás da Bolívia, e Lula deixou claro que o assunto não foi tratado. "Se o Evo Morales quisesse conversar comigo sobre gás, ele não viria aqui só para isso. Na hora em que ele quiser conversar, tenho o ministro das Minas e Energia, tenho o presidente da Petrobrás e na hora em que ele sentir necessidade faremos tantas reuniões quantas necessárias", disse. Estocada Apesar do discurso de apoio ao colega venezuelano, Lula deu uma estocada em Chávez, com quem disputa informalmente a liderança política na região. Enquanto o venezuelano conquista apoios políticos distribuindo investimentos financiados pelos dólares de suas exportações de petróleo, Lula oferece financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "O dinheiro do Brasil não é meu e eu não posso sair por aí oferecendo dinheiro para qualquer pessoa", declarou, ao ser perguntado sobre a demora BNDES em conceder empréstimos para os países mais pobres, apesar do discurso oficial de que a ajuda é necessária. "O Brasil não promete. O Brasil fala do que pode fazer, respeitando a legalidade. Quando o BNDES faz um empréstimo para um país, precisa de garantias. Afinal, o dinheiro não é do presidente do BNDES nem do presidente da República: é do Estado brasileiro." Chávez deu uma demonstração de força ao anunciar a ajuda de US$ 100 milhões para o Paraguai. Lula, por sua vez, acenou com maior acesso ao mercado brasileiro e com investimentos produtivos. Lula e Chávez coincidiram ao defender o ingresso da Bolívia no Mercosul. Segundo fontes do governo, o apoio do Brasil à entrada da Venezuela no Mercosul foi uma tentativa de conter os avanços de Chávez. Lula acredita que, como membro do Mercosul, conseguirá manter o venezuelano próximo de si. É uma posição mais vantajosa do que mantê-lo afastado e irritado. Chávez, porém, acredita que sua entrada no bloco sul-americano vai reforçar sua posição de liderança no bloco.

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