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Lula diz que não terá "medo de enfrentar resistência do empresariado"

Em reunião com chefes de Estado, na Rússia, ele insistiu que essa decisão não seria um "risco" político, mas um ganho para o Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste domingo que não terá medo de enfrentar a resistência do empresariado industrial para aprofundar os cortes nas tarifas de importação de bens do setor, mesmo em período de campanha pela sua reeleição, como meio de conseguir a conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ao final de uma reunião com os chefes de Estado da Índia, China, África do Sul, México e Congo, Lula insistiu que essa decisão não seria um "risco" político, mas um ganho, e que o Brasil já tem sua "carta sob o colete". "Eu não preciso assumir risco. Eu posso assumir um ganho político. Por que tem de ser risco e não ganho? A proposta brasileira trará um ganho político para o Brasil", desconversou Lula. "Eu não estou pensando em nenhuma categoria empresarial, em especial. Estou pensando no Brasil e no futuro do comércio mundial." Pouco antes, o presidente havia afirmado que cada parceiro da OMC sabe o que está em jogo - o impacto da liberalização do comércio mundial e da redução de subsídios agrícolas no desenvolvimento econômico, em especial dos países mais pobres. Mas ressaltou que cada governante deve adotar as concessões necessárias para a conclusão exitosa da Rodada sem se "preocuparem com o público interno e com seus eleitores". Indiretamente, referiu-se aos temas que entravam as negociações neste momento. Ou seja, ao custo político para o governo americano reduzir efetivamente os subsídios à produção agrícola, em ano de eleições no Congresso dos Estados Unidos; a dificuldade da União Européia justificar uma abertura maior de seu mercado agrícola, depois da reforma de sua política de proteção e de subsídios em 2004; o preço político elevado para os governos de países em desenvolvimento exporem suas indústrias a uma maior competição nos mercados internos. Próximos 30 anos "Nós estamos pensando no mundo nos próximos 30 anos. Não podemos permitir que o medo que algum país tenha de mexer com os seus agricultores, com seus industriais, possa prejudicar um acordo que vai beneficiar a totalidade da humanidade", assinalou. Questionado se, como líder de um país significativo nas negociações da OMC, poderia determinar a adoção de um corte de dois terços no teto da tarifa de importação de bens industriais do País em pleno período eleitoral, Lula desconversou. Oficialmente, o Brasil e a Argentina mantêm sobre a mesa de negociações a proposta conjunta de redução na tarifa de importação mais alta dos atuais 35% para 16,45%. Nos bastidores, entretanto, negociadores brasileiros acenam para os americanos e europeus com a possibilidade de adoção do chamado Coeficiente 20 da Fórmula Suíça, que derrubaria os 35% para 12,73%. A tarifa média, entretanto, subiria de 11% para 11,74%. "Sobre o número que vamos colocar na mesa, no momento certo, pode ficar certo que o Brasil ganha com ele", rebateu.

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