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Lula e Bush conversam a sós durante reunião do G-8

Veja o especial sobre o G-8

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, anteciparam hoje, em Evian, uma parte da agenda que terão em comum no próximo dia 20, em Washington, quando está previsto um encontro bilateral entre os dois países. Os presidentes conversaram durante cerca de 15 minutos, entre o fim do almoço dos chefes de Estado presentes à cúpula ampliada do G-8 e o início da reunião de trabalho, nos jardins do Hotel Royal Parc Evian. "Ainda estamos fechando a agenda. Não podemos passar por cima da nossa diplomacia", disse o presidente, na entrevista coletiva, para despistar o assunto da conversa tête-à-tête que teve poucas horas antes com o americano. O diálogo iniciou-se de forma casual e em espanhol - a única língua em que os dois julgaram ser capazes de se entender sem a ajuda de assessores. Logo, entretanto, o intérprete da Presidência da República acudiu Lula e Bush para ajudar na tradução do português para o inglês e vice-versa. De acordo com o assessor de assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia, parte da conversa teria girado em torno da Venezuela e da Colômbia (os americanos tem cobrado um maior empenho do Brasil na Colômbia e um menor engajamento com a Venezuela), mas Lula não quis dar detalhes. "Colômbia e Venezuela não são um problema do Brasil. Vou aos Estados Unidos discutir a relação bilateral", desconversou o presidente. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, confirmou que o encontro entre Lula e Bush no dia 20 tratará "evidentemente de temas comerciais" de conflito entre os dois lados, como o processo de negociação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e os contenciosos na Organização Mundial de Comércio (OMC). Eventualmente, entretanto, pontos de interesse comum poderão ser discutidos, como termos de cooperação educacional e científica e a redução dos subsídios agrícolas dos países europeus. "Desde que a União Européia diminua os subsídios, os Estados Unidos reduzem os dele também", disse Amorim aos jornalistas brasileiros, durante a travessia do Lago Leman, entre Evian (França) e Lausanne (Suíça). Segundo ele, o Brasil "não tem nenhum medo de negociar a Alca, desde que seja no tabuleiro e na configuração adequada". Em outras palavras, desde que o governo brasileiro não entre na negociação já perdendo. "Se errarmos na abertura, não temos como acertar no meio e no fim." Apesar do diálogo aberto, Lula não deixou escapar ontem a oportunidade de dar uma alfinetada no governo americano, informando - durante a coletiva - que o diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Horst Köhler, havia cobrado medidas dos presidentes dos Estados Unidos e da Europa para evitar que uma crise decorrente do desequilíbrio fiscal desses países tenha conseqüências desastrosas para o resto do mundo. Segundo o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, que testemunhou o discurso, o puxão de orelha do manda-chuva do FMI foi "forte" e muito "progressista". "À medida em que não se resolve isso (o déficit fiscal), essa conta acaba sendo distribuída por todos os países", afirmou Palocci. Enquanto países em desenvolvimento, como o Brasil, estão cortando gastos públicos e fazendo superávit primário de 4,25% do PIB, como é a meta brasileira (o realizado no primeiro quadrimestre foi inclusive maior do que 6%), os Estados Unidos e vários países europeus estão no vermelho. A Alemanha chegou inclusive a estourar o teto de 3% do PIB para o déficit que foi estipulado no Acordo de Maastricht.

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