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''Lula erra na política de juros''

Em evento em Minas, Alencar diz que a política monetária é ?contrária aos interesses nacionais?

Por Eduardo Kattah
Atualização:

O presidente em exercício, José Alencar, aproveitou ontem a solenidade de entrega da Medalha da Inconfidência, em Ouro Preto (MG), para retomar ataques à política monetária do Banco Central (BC). Orador oficial do evento, bateu forte na condução da política de juros, classificada como "contrária aos interesses nacionais". Na antiga Vila Rica, durante a tradicional comemoração de 21 de abril, fez alusão à revolta dos inconfidentes mineiros contra a dominação e exploração econômica da colônia pela coroa portuguesa. Alencar elogiou o equilíbrio orçamentário e o respeito fiscal do governo Lula, quando questionado sobre a responsabilidade da atual administração. "As coisas não são fáceis. Eu acho que um esforço muito grande ele (Lula) tem feito. O único erro que eu bato contra é a política monetária." Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto porcentual, para 11,75% ao ano. O reajuste - o primeiro desde maio de 2005 - surpreendeu o mercado, pois a expectativa da maioria dos analistas era de alta de 0,25 ponto porcentual. Na entrevista após a cerimônia, Alencar procurou desvincular as críticas da decisão do Copom, reiterando que sua inconformidade é com a condução da política monetária. "Esses juros, do ponto de vista real, são seis vezes superiores à taxa básica média real do mundo. O Brasil é um país de primeiro mundo, não pode ser tratado dessa maneira. Então é a minha razão principal quando falo disso. E nem me refiro a esse meio ponto percentual", disse. "Isso é um absurdo, nós estamos gastando, fazendo transferência brutal de renda do trabalho para o sistema financeiro." Alencar citou a economista Maria da Conceição Tavares que, segundo ele, tachou a política monetária de imbecil. "Não cheguei a esse adjetivo mas, ao lado dela estarei bem acompanhado, pois é uma das que mais conhecem de economia." Para ele, a taxa básica teria de cair até um padrão internacional. "Do ponto de vista nominal seria uns 5%, pois a taxa básica real média do mundo é menos de 1%." Alencar substitui Lula, que está fora do País. Depois de reclamar dos juros, encerrou seu discurso afirmando que o Brasil "não é, ainda, a pátria com a qual Tiradentes sonhou e, mais do que isso, pela qual morreu". Diante de cerca de 3 mil pessoas, Alencar interrompeu a leitura do pronunciamento para dizer que, "levado pelas emoções, não deixaria de, mais uma vez, despertar a nação para a política monetária de juros altos - os mais altos do mundo - contrária aos interesses nacionais."

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