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Lula nega 'traição' a G-20 na OMC e diz que diferenças existem

Para presidente, o 'importante é que há decisão política para fechar o acordo que será bom para todos'

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Por Leonencio Nossa , de O Estado de S.Paulo e Reuters
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva amenizou neste sábado, 26, o clima de discórdia no bloco dos países emergentes com a decisão do governo brasileiro de romper com África do Sul, Argentina e Índia nas negociações da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em entrevista, ele negou ter abandonado os aliados tradicionais quando aceitou acordo de flexibilização de tarifas e novas regras comerciais com a União Européia e os Estados Unidos. "O Brasil não quebrou nenhuma solidariedade", afirmou. "O (G-20) não sairá rachado, porque isso não faz parte da estratégia que montamos." Veja também: UE não aceita proposta da OMC para Rodada de Doha Quinto dia na OMC termina com princípio de acordo em Doha Rodada Doha: entenda o que está em jogo em Genebra Ao encerrar e viagem de três dias a Portugal, Lula diz que permanece esperançoso que as difíceis conversações na Organização Mundial do Comércio resultarão em um acordo global para o comércio. Como havia afirmado no dia anterior, Lula ressaltou que continua acreditando num acordo na rodada da OMC. "Para mim, as divergências são normais, porque (a rodada) envolve muitos interesses, muitos países e milhares de empresários", disse. "Tem de ter divergências", salientou. "O importante é que há decisão política para fechar o acordo que será bom para todos."Ele observou as diferenças de interesses entre os setores agrícolas do Brasil com os dos demais países do G-20, bloco em que estão incluídos os emergentes. "Participamos do G-20, queremos que o acordo seja de interesse do G-20, mas vocês têm de convir que dentro do grupo existem assimetrias e disparidades enormes entre os países", disse. "Os interesses dos países não são os mesmos, embora tenhamos que encontrar um denominador comum", completou. "Agora, temos de respeitar as diferenças que existem." Amorim O chanceler Celso Amorim justificou a aceitação por parte do Brasil do projeto de acordo na Rodada Doha da  OMC e negou que isso tenha criado um mal-estar com a Argentina. Amorim disse que, ainda que os dois países sejam sócios no Mercosul, "cada um julga com sua própria cabeça". O ministro afirmou que se reuniu neste sábado com seu colega argentino, Jorge Taiana. "Não me pareceu que tenha havido um mal-estar", declarou. No entanto, o chefe da delegação argentina em Genebra, Alfredo Chiaradia, disse à France Presse que a posição brasileira nas negociações causou tensões dentro do Mercosul. "Não por nossa causa", ressalvou o representante argentino. Abertura O presidente Lula disse que os países desenvolvidos ainda precisam abrir mais seus mercados. O Brasil é um dos maiores exportadores de produtos agrícolas do mundo e negociador chave para o acordo, . Propostas apresentadas na sexta-feira revitalizaram as conversações mas ministros alertaram que muito trabalho ainda precisava ser feito para se chegar a um acordo completo. "Eu continuo acreditando que nós vamos fechar o acordo. As divergências são normais porque elas envolvem muitos interesses", disse Lula em Lisboa, onde participa de um encontro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). "O importante é que haja a decisão política de fazer o acordo, porque ele será bom para o mundo."  "O mundo rico precisa compreender que liberdade de comércio significa não apenas eles quererem vender (seus produtos). Significa também eles terem disposição de comprar", acrescentou. Sem um acordo, Lula disse que os países pobres ficariam sem um mercado para vender seus produtos agrícolas e sem os incentivos para produzir mais em um momento de alta dos preços dos alimentos. Os países em desenvolvimento afirmam que os subsídios de Estados Unidos e União Européia impedem que agricultores nos países pobres produzam, contribuindo para a atual crise dos alimentos.  Eles também se opõem ao alto nível de proteção que os agricultores dos países ricos possuem. Os países ricos querem aumentar o acesso de mercado para seus produtos industriais e serviços em países emergentes como Brasil, Índia e China. (Com Hélio Barboza, de O Estado de S.Paulo)  

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