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Lula tenta convencer mercado da mudança de rumos na economia

De olho na reeleição de Dilma, ex-presidente, junto com o PMDB, busca aproximação com o setor empresarial

Por Debora Bergamasco e João Villaverde
Atualização:

Principal cabo eleitoral e mentor da candidatura pela reeleição da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula tem se reunido com empresários, banqueiros e donos de empreiteiras para tentar convencer o mercado de uma mudança de rumo na política econômica. Os principais objetivos são reduzir a inflação - que ficou em torno de 6% no governo Dilma - e retomar o crescimento. Na visão de Lula, a aproximação busca tanto recuperar o otimismo e a credibilidade da presidente com os empresários quanto assegurar um financiamento robusto da campanha presidencial.

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O PMDB, principal partido da base aliada, voltou a trabalhar por essa aproximação, como admitiu ao Estado o vice-presidente Michel Temer: "Tenho percebido que o setor empresarial quer estabelecer esse canal com o governo. E o PMDB tem se aproximado desse grupo até para reafirmar seu compromisso com a governabilidade e ampliar o diálogo com o setor empresarial e suas demandas."

Na quinta-feira, por exemplo, o vice foi homenageado com um jantar na casa do empresário João Doria Júnior, com Luiza Helena Trajano (Magazine Luiza), Jorge Gerdau (Grupo Gerdau) e André Esteves (BTG Pactual). O banqueiro quis saber o que Dilma estava fazendo em relação aos protestos de junho.

Ouviu os cinco pactos (responsabilidade fiscal, reforma política, saúde, transporte, e educação) como resposta e dados de investimentos em infraestrutura. Temer reconheceu ainda a estratégia de atrair para o PMDB lideranças empresariais, como Josué Christiano Gomes da Silva, da Coteminas, José Batista Junior, da Friboi, e a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura (CNA).

Rumos. O Palácio do Planalto e a equipe econômica estão convictos de que foi correta a estratégia inaugurada em agosto de 2011, que combinou um esforço concentrado na redução das taxas de juros, a desvalorização do câmbio, redução no aperto fiscal para combater a crise mundial e pacotes de medidas de estímulos setoriais.

Chamada de "nova matriz macroeconômica" por Mantega, a política deve mudar sensivelmente, para permitir uma política fiscal mais transparente e adaptada ao ciclo econômico, mas a "luta" por juros mais baixos e câmbio desvalorizado vai continuar.

Além disso, um dos principais conselheiros da presidente Dilma, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, disse que "uma ideia para se pensar a partir de 2015" é alongar o período de combate à inflação. "Não dá para todos os anos o BC perseguir a mesma meta, independentemente de choques de oferta, internos ou externos. É preciso uma meta mais longa."

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De acordo com Belluzzo, as eleições estão ganhando corpo justamente no debate econômico. "Não é só Marina, mas outras autoridades têm falado no abandono do tripé macroeconômico. Mas o importante não é isso, mas sim saber quem vai assegurar aos empresários que o crescimento voltará."

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, do primeiro escalão de conselheiros presidenciais, também considera que o afrouxamento das regras do tripé econômico teve seu papel para manter a saúde financeira do País, especialmente em momento de crise mundial.

Bernardo, que também já foi titular do Planejamento, critica os argumentos dos adversários sobre o tema. "Que esquisito ver a Marina (Silva) falando de tripé econômico. De onde saiu isso?", ironizou o ministro. "Ela foi senadora por 16 anos, ministra por cinco e nunca tocou nesse assunto. Fui ministro junto com ela e quando alguém falava em tripé ela fazia muxoxo. Acho que ela fez amizade com alguns banqueiros em São Paulo e resolveu adotar esse discurso."

Para ele, "o governo não abandonou o tripé, acho que aliviou o tripé". "Se essa política que a Marina está pregando for aplicada ao pé da letra, vai significar desemprego, recessão, quebradeira de empresas e juro alto. Acho que ela está repetindo alguma coisa que falaram, sem avaliar as consequências." 

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