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Lula teve de ordenar 2 vezes o fim de barreira

Trapalhada teve até interpretação errada de decisão presidencial por parte do Desenvolvimento

Por Denise Chrispim Marin e BRASÍLIA
Atualização:

Suspensa anteontem, conforme a retórica oficial, a exigência de licenças automáticas para a importação de produtos de 24 setores foi arquivada, de fato, e não será editada novamente pelo governo federal. A barreira foi revogada somente depois de duas ordens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, por pouco, não expôs o governo brasileiro a uma onda de críticas durante o Fórum Econômico Mundial, de Davos. Uma autoridade da área econômica informou que a barreira "está morta". O arquivamento deverá ser oficializado na próxima semana, com o retorno ao País de Miguel Jorge, titular do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Ontem, o ministério tratava de apressar a liberação dos pedidos de licença acumulados nos três dias de vigência da medida. Em um episódio bizarro, a exigência vigorou por mais tempo que deveria - da manhã de segunda à noite de quarta-feira. Um colaborador do Planalto relatou que o presidente Lula "esbravejou" contra a medida diante do perplexo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e ordenou que ele desfizesse esse "erro fenomenal". Mantega entendeu o recado, mas o teria repassado "com diplomacia demais" a Ivan Ramalho, ministro-interino do Desenvolvimento. Responsável direto pela medida, Ramalho entendeu que a iniciativa recebera o aval de Lula. No final da terça-feira, o presidente teria se irritado ainda mais ao saber que a decisão ainda não havia sido revogada. No dia seguinte, Lula chamou Mantega ao Planalto e repetiu a ordem. A suspensão da exigência de licenças foi anunciada no auditório da Fazenda, ao longo de apenas cinco minutos, pelo próprio Mantega e por Ramalho. A mesma fonte avalia que a medida não poderá mais ser reeditada porque já está identificada pela opinião pública como um ato protecionista - o que não interessa a Lula, neste momento. Nos principais foros econômicos e comerciais, o presidente vem defendendo a tese de que a proteção comercial somente agrava a crise econômica e clama pela retomada da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). A demora na suspensão das licenças quase expôs Lula e o governo a uma situação vergonhosa e contraditória no plano internacional. Ontem, o Desenvolvimento ainda digeria mal a revogação da medida. Técnicos do ministério insistiam que a exigência das licenças não tinha caráter protecionista, uma vez que respeita as regras da OMC, e que seria um importante instrumento para antecipar os resultados semanais das importações. Os técnicos mostravam-se contrariados, sobretudo, por terem sido apontados como os responsáveis pelo "erro fenomenal". "Somos apenas soldados", afirmou um técnico, ao referir-se à decisão tomada por instâncias superiores do próprio ministério e da Fazenda.

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