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Lula vai à China para atrair capital

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, enviou missão a Pequim para preparar a viagem do presidente

Por Cláudia Trevisan e PEQUIM
Atualização:

A China será um dos principais alvos do esforço do governo brasileiro de buscar recursos externos para financiar obras de infraestrutura, basicamente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em um ano particularmente intenso na relação entre os dois países. O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, enviou há um mês missão a Pequim para preparar sua visita ao país, na qual deverá apresentar os projetos com potencial de atrair investimentos. A tentativa de sedução dos chineses terá participação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fará ainda no primeiro semestre sua segunda visita de Estado à China desde que assumiu o cargo. O embaixador do Brasil em Pequim, Clodoaldo Hugueney, entregou ontem suas credenciais ao presidente da China, Hu Jintao, e ouviu dele a afirmação de que a parceria entre os dois países precisa ser aprofundada. Anunciada em 2004, durante visita de Lula a Pequim, a parceria rendeu poucos frutos, além do aumento do comércio bilateral. As promessas chinesas de investimentos no Brasil não se concretizaram e o reconhecimento da China como economia de mercado por Brasília ficou apenas na retórica. "Faltam coisas concretas", disse Hugueney. O embaixador defendeu a necessidade de investimentos chineses no Brasil e de diversificação das exportações brasileiras à China. Também reconheceu que a não formalização do reconhecimento da China como economia de mercado "é um problema" que precisa de solução. Na avaliação de Hugueney, a desvalorização do real e a queda das importações da China em razão da desaceleração da economia brasileira vão reduzir a pressão contra produtos chineses. "A taxa de aumento de 60% das importações da China no ano passado era impossível de sustentar." Nesse cenário, seria possível achar uma saída intermediária para a questão da economia de mercado, como o reconhecimento gradual de setores específicos. Todo o esforço do governo brasileiro estará concentrado na atração de recursos chineses, em um período de escassez de capitais internacionais. Com um fundo soberano de investimentos que tem US$ 300 bilhões em caixa, a China está em busca de projetos que garantam taxas de retorno razoáveis e não apresentem riscos altos. Em suas primeiras incursões no exterior, o fundo soberano adquiriu participações em instituições financeiras americanas, como Blackstone e Morgan Stanley, e sofreu prejuízos bilionários com a crise global. A intenção de buscar financiamento externo para obras de infraestrutura foi revelada por Coutinho em entrevista ao Estado no domingo, na qual ele disse que prepara roadshows para apresentar oportunidades de investimentos no Brasil. A harmonização das estatísticas de comércio exterior é uma das tarefas a que chineses e brasileiros se dedicarão neste ano. Enquanto os números brasileiros apontam déficit de US$ 3,6 bilhões no comércio com a China em 2008, a conta dos chineses mostra superávit de US$ 12 bilhões. O valor total do comércio bilateral também é distinto. Para os chineses, ele foi de US$ 42 bilhões. Para os brasileiros, de US$ 34 bilhões. "É uma discrepância grande", ressaltou Hugueney. Segundo ele, há um grupo de trabalho com representantes dos dois países com a tarefa de identificar as razões das diferenças entre os números e propor soluções. A discrepância dificulta as discussões bilaterais sobre comércio, já que apresentam cenários totalmente distintos.

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