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Lula veta FGTS para o saneamento

Medida foi retirada por sugestão dos Ministérios da Fazenda e do Trabalho

Por Agencia Estado
Atualização:

Por sugestão dos Ministérios da Fazenda e do Trabalho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou dois artigos que criavam incentivos fiscais aos investimentos em saneamento básico e permitiam o uso dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em fundo de investimento em infra-estrutura e saneamento, além da compra de ações e debêntures de empresas do setor. A mensagem do presidente ao Congresso, com as razões dos vetos à lei que institui o marco regulatório do saneamento básico, foi publicada na segunda-feira no Diário Oficial da União. A lei foi sancionada pelo presidente Lula na semana passada. Os artigos vetados foram elogiados pelo ministro das Cidades, Márcio Fortes, quando a lei de saneamento básico foi aprovada pela Câmara, em dezembro passado. Um dos dispositivos vetados permitia que o valor dos investimentos feitos em ativos permanentes imobilizados de serviços de saneamento fosse utilizado como crédito tributário pelas empresas para o pagamento da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e da contribuição do PIS/Pasep. A Fazenda e o Trabalho consideraram que essa medida ´poderá trazer graves repercussões sobre o alcance das metas de equilíbrio fiscal´. Os dois ministérios argumentam que várias desonerações foram adotadas ao final de 2005 com o intuito de reduzir a carga tributária federal, o que vem diminuindo a arrecadação da União. "Assim, permitir desoneração adicional de tributos significaria dificuldades para a manutenção das despesas sociais em níveis satisfatórios, reduziria a capacidade de o Estado investir e geraria riscos adicionais para o cumprimento das metas fiscais compatíveis com a redução da dívida pública", argumentam a Fazenda e o Trabalho. Renúncia fiscal Os dois ministérios esqueceram que, até o fim deste mês, o presidente Lula deverá anunciar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com novas medidas de desoneração tributária, que implicarão renúncia fiscal de R$ 6 bilhões a R$ 8 bilhões. Quando a lei do saneamento foi aprovada pela Câmara, o deputado Julio Lopes (PP-RJ), relator do projeto, estimou que a perda de receita da União com a Cofins e com o PIS/Pasep este ano seria de R$ 2,5 bilhões. O ministro Márcio Fortes chegou a dizer que, se a lei estivesse em vigor em 2006, a renúncia fiscal teria sido de R$ 600 milhões. Ontem, o Ministério das Cidades não quis se manifestar sobre os vetos. O presidente Lula vetou também o artigo da lei que o autorizava o FGTS a fazer investimento direto, ou por meio de seus agentes financeiros, em fundos de investimento e participações, na aquisição de cotas de fundo de direitos creditórios e em outros fundos criados para investimento em saneamento e infra-estrutura, assim como na aquisição de ações representativas do capital social e em debêntures de empresas de saneamento e infra-estrutura. No dia da aprovação da lei, o ministro Márcio Fortes chegou a informar que seriam utilizados R$ 5 bilhões de recursos do FGTS para essas finalidades, sendo 30% desse total na área de saneamento. A idéia de usar recursos do FGTS diretamente em investimentos em infra-estrutura e em saneamento é atribuída, dentro do governo, ao ministro do Trabalho, Luiz Marinho. Na mensagem de veto, no entanto, o Ministério do Trabalho mudou de idéia. Agora, o Trabalho e a Fazenda dizem que o artigo ampliou consideravelmente o leque de aplicações dos recursos do FGTS, "além de desvirtuar substancialmente o escopo original da Lei 8.036 (que regulamenta o FGTS)". Segundo os dois ministérios, o Fundo ficaria sujeito ´à deterioração de sua capacidade financeira, sem resultados positivos palpáveis´. Outro artigo vetado pelo presidente Lula retira qualquer obstáculo a que governadores e prefeitos cobrem das empresas pela concessão de serviços de saneamento básico. O artigo vetado previa que a concessão onerosa não teria acesso a recursos orçamentários federais e a financiamentos com recursos do FGTS e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Esta fórmula foi elaborada pelo próprio Ministério da Cidades, para evitar que a cobrança pela concessão fosse repassada para a tarifa de água e esgoto e terminasse sendo paga pelo usuário. Ao todo, Lula vetou 15 dispositivos da lei do saneamento.

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