28 de setembro de 2013 | 14h19
MONTEVIDEO - Um futuro sem prisões e sem ‘seca’, ou seja, sem falta de maconha no mercado, é a esperança dos usuários da droga neste momento em que o Parlamento está em vias de aprovar a primeira lei do mundo a legalizar o cultivo e a venda da substância.
A aprovação no Senado nas próximas semanas é dada como certa. Por enquanto, o tema está sendo discutido na Comissão de Saúde.
Os usuários, enquanto aguardam, se preparam para uma ‘revolução’ na forma em que até o momento costumam aplacar a vontade de fumar as flores secas do cânhamo, nas consequências de sua prática e na sua interação com o restante da sociedade.
Narcotráfico. O projeto uruguaio legalizará a produção e venda de maconha em lojas especialmente habilitadas para o comércio, assim como o cultivo pessoal. O objetivo é o de combater o narcotráfico e cobrir o vazio legal que existe até hoje, já que o consumo da droga não é condenado no país desde 1974, mas apenas o comércio e o cultivo.
"A primeira grande mudança será de mentalidade, sem dúvida, e essa nos tocará a todos, porque durante muitos anos fomos ameaçados de sermos condenados pelo delito por comprar e vender", disse Laura Blanco, presidente da Associação de Estudos de Cannabis do Uruguai. "O usuário se sentia delinquente ao comprar".
Segundo ela, a mudança para os cultivadores domésticos terá um valor adicional de eliminar as ameaças de prisão, o que também tem sua importância.
Estigma. A eliminação do estigma também foi considerada importante por Pablo e Alejandro, dois usuários e cultivadores de cannabis, que se mostram muito satisfeitos com a expectativa de que não vão mais correr o risco de condenação.
"Não é pouca coisa, e isso coloca o Uruguai numa perspectiva melhor em comparação a outros países da região, onde plantar para consumo próprio ainda pode significar até oito anos de prisão", comenta Pablo.
A possibilidade de comprar maconha em um estabelecimento habilitado foi considerada uma mudança muito positiva pelo cidadão espanhol que está morando no Uruguai há três anos.
"Tenho mulher e um filho, e não me atrai a ideia de ter de recorrer a traficantes para um consumo que considero recreativo", afirma ele.
De acordo com cifras da Junta Nacional de Drogas, 20 % dos uruguaios com idade entre 15 e 65 anos consumiu maconha alguma vez na vida e 8,3% consumiu nos últimos 12 meses, o que revela a facilidade com que a droga pode ser comprada no país.
Qualidade. Consumidores consultados pela agência de notícias EFE disseram que a maconha paraguaia consumida no Uruguai é de qualidade muito ruim ("muy mala"), e pode ser encomendada por telefone ou nas ruas. O preço é considerado relativamente caro.
"Antes de começar a plantar, comprava 25 gramas de maconha por cerca de 500 pesos (US$ 23,00). Agora o preço subiu para 700 pesos (US$ 31 dólares). Isso quando há oferta, porque há um ano e meio enfrentamos uma ‘seca’", afirma Alejandro.
Para este pai de dois filhos que cultiva maconha no quaintal de sua casa há dois anos, o fim da escasez que virá com a aprovação da nova lei deverá diminuir o narcotráfico, como espera o governo. "Muitos vão poder plantar e haverá menos interessados em pagar caro por uma porcaria", diz ele.
Alejandro acha que o exemplo do Uruguai será positivo por demonstrar que a legalização não vai ‘provocar o fim do mundo’, como muitos temem.
"Pelo aspecto econômico será bom para o país, pois haverá dinheiro para investimento em produção industrial de maconha", comenta ele. "Pessoas com dinheiro que fumam maconha paraguaia vão refinar o gosto e terão prazer com gastar com produtos de melhor qualidade, o que vai estimular o cultivo de novos produtores".
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