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Madoff é condenado a 150 anos de prisão

Juiz dos EUA qualificou fraude de US$ 65 bilhões de ''assombrosa''

Por Gustavo Chacra
Atualização:

Autor confesso da maior fraude financeira da história de Wall Street, o investidor Bernard Madoff foi condenado ontem a 150 anos de prisão. O juiz federal Denny Chin, que proferiu a sentença, qualificou o golpe que lesou centenas de pessoas em US$ 65 bilhões (cerca de R$ 127 bilhões) de "assombroso". O investidor foi condenado à pena máxima nas 11 acusações em que foi julgado, entre fraude e lavagem de dinheiro. Entenda como funcionava o esquema de pirâmide de Madoff O anúncio feito após uma hora e meia de audiência foi celebrado com aplausos. O juiz rejeitou o argumento dos advogados de defesa de que havia um sentimento de vingança contra Madoff e classificou o crime como "extraordinariamente maldoso", acrescentando que a fraude persistiu por mais de 20 anos. "Simplesmente, não acredito que o senhor Madoff fez tudo o que podia (para contribuir com as investigações) ou disse tudo o que sabia", afirmou. A defesa pedia pena de 12 anos de prisão. Madoff pode recorrer da decisão mas, mesmo com uma pena menor, o investidor já passaria o resto da sua vida na prisão. Chin disse que a condenação máxima seria uma lição destinada também a líderes do crime organizado. Segundo Chin, ele não recebeu uma carta sequer em apoio ao investidor. "Isso diz muita coisa", afirmou. Ao se dirigir às pessoas que perderam fortunas por causa da sua fraude, Madoff lamentou o episódio e pediu "desculpas". Entre as vítimas, há fundações privadas, instituições caridade, universidades, pequenas empresas e pessoas físicas. "Sou responsável em grande parte pelo sofrimento e a dor (de muitas pessoas). Eu sei disso. Vivo atormentado, sabendo de toda dor e sofrimento que provoquei. Deixei um legado de vergonha para minha família e para os meus netos, conforme disseram algumas das vítimas", disse o investidor. Ex-diretor da bolsa de valores eletrônica Nasdaq, Madoff possuía um fundo de investimento denominado Investments Securities LLC, no qual ele montou um esquema de pirâmide para realizar a histórica fraude. Com a captação de dinheiro de novos clientes, ele remunerava os antigos, dando a entender que o rendimento de seu fundo era alto. Com a crise internacional e a redução nos investimentos, seu esquema se tornou insustentável e ele foi desmascarado, sendo preso em dezembro. Em março, ele foi considerado culpado em onze acusações, incluindo lavagem de dinheiro. O investidor afirma ter atuado sozinho e não indicou nenhum cúmplice, nem mesmo os membros de sua família que trabalhavam no fundo. O único outro acusado é seu contador. Nove vítimas de Madoff foram ouvidas pelo juiz Chin ontem em Nova York. Algumas delas disseram ter perdido as economias de toda a vida, sendo obrigadas a vender suas casas e pedir ajuda ao governo para comprar comida. Outras eram grandes investidores que confiavam na credibilidade de Madoff, considerado há décadas um dos mais proeminentes investidores de Wall Street. "Apenas espero que a sua sentença seja longa o bastante para a sua cela se tornar o seu caixão", afirmou Michael Scwartz, uma das vítimas. "Como ele pode olhar as pessoas nos olhos?", questionou George Nierenberg, 57, em citação da agência de notícias Reuters. "Deve haver algo patológico nele, que continua dando desculpas", acrescentou. Ruth Madoff, 68, mulher do investidor, divulgou um comunicado ontem, afirmando que se sentir traída. "No momento que soube que meu marido havia cometido uma enorme fraude, tive dois pensamentos. Primeiro, que tantas pessoas que confiaram nele financeiramente e emocionalmente estavam arruinadas. Segundo, que a minha vida com o homem com que estava há 50 anos chegara ao fim." DISPUTA O casal Madoff terá de vender muitas de suas propriedades. Ruth poderá ficar com US$ 2,5 milhões. Uma comissão que tenta organizar uma compensação para as vítimas conseguiu, até agora, US$ 1,2 bilhão. Mas muitos dos investidores que perderam dinheiro travam batalhas judiciais para disputar o montante.

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