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Maioria dos americanos corre risco de viver na pobreza

Ferramenta criada por acadêmicos calcula probabilidade com base em critérios como etnia, grau de instrução e estado civil

Por Mark R. Rank e Thomas A. Hirschl
Atualização:
Entre os 20 e os 75 anos, quase 60% dos americanos viverão pelo menos um ano abaixo da linha oficial de pobreza Foto: Gérard DuBois/NYT

Dois problemas econômicos hoje estão cada vez mais prementes nos Estados Unidos: a insegurança econômica generalizada e a disparada dos níveis de desigualdade. Não são questões que interessam apenas a acadêmicos e legisladores; são uma preocupação primordial do cidadão comum. "Qual o risco econômico que enfrentarei no futuro?", você pode se perguntar. "De que maneira o meu risco difere do risco de outros?".

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Muitos professores, como nós, vêm analisando o risco econômico e publicando os resultados em revistas acadêmicas e outros meios de comunicação eruditos. Mas os americanos em geral também podem se beneficiar de uma ferramenta que os ajudará a personalizar o enorme volume de dados que analisamos sobre este tema. Elaboramos um calculador de risco econômico, à disposição em riskcalculator.org, que lhe permitirá avaliar as probabilidade de você empobrecer nos próximos cinco, dez ou 15 anos. 

A ideia que apoia nosso enfoque é similar à que auxilia um médico a prever seu risco de doença cardíaca. Usando várias informações (como pressão sanguínea, colesterol, etc) seu médico pode fazer uma estimativa prudente dos riscos de ter um ataque cardíaco nos próximos 10 anos. Os números são baseados em critérios estatísticos derivados de uma ampla amostra de famílias que integram o Framingham Heart Study, estudo longitudinal de saúde cardiovascular que começou em 1948.

Nossos prognósticos de risco econômico funcionam de modo similar. Usando centenas de milhares de registros extraídos de um estudo longitudinal de americanos com início em 1968, avaliamos a probabilidade - com base em fatores como etnia, instrução, estado civil e idade - de um indivíduo cair abaixo da linha de pobreza oficial nos próximos cinco, 10 ou 15 anos. (O nível de renda de uma família de quatro pessoas considerada pobre em 2015 se situava aproximadamente em US$ 24.000).

Descobrimos que para muitos americanos o risco futuro de empobrecer está longe de ser insignificante. Tome como exemplo uma pessoa que, poderia se pensar, tem pouca probabilidade de empobrecer: um americano em torno dos 30 anos, que não é casado e que tem educação superior. O risco de empobrecimento em 15 anos no caso deste indivíduo na verdade é de 32%. Em outras palavras, um terço de indivíduos com essas características vai viver pelo menos um ano abaixo da linha de pobreza num futuro não tão distante.

Se projetarmos um grupo mais amplo de adultos, ao que parece uma maioria clara de americanos viverá na pobreza. Por exemplo, numa pesquisa anterior estimamos que entre os 20 e os 75 anos quase 60% dos americanos ficarão pelo menos um ano vivendo abaixo da linha oficial de pobreza e três quartos viverão um ano 150% abaixo dessa linha.

O risco de empobrecer em cinco anos é de 5% no caso de um americano entre 45 e 49 anos, branco e casado, com instrução além da secundária

Além disso, nosso calculador de risco destaca o quão vastas são as desigualdades nos Estados Unidos. Etnia, educação, estado civil e idade podem fazer uma enorme diferença em termos de quem está mais, ou menos, propenso a enfrentar a pobreza. Por exemplo, o risco de empobrecer em cinco anos é de 5% no caso de um americano entre 45 e 49 anos, branco e casado, com instrução além da secundária. Em compensação, o risco em cinco anos no caso de um indivíduo entre 25 e 29 anos, não branco e solteiro, que concluiu somente o curso secundário, ou nem chegou a isto, é de 72%.

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O fosso entre os ricos e os necessitados nos Estados Unidos hoje é o maior já observado em décadas. Nossas projeções de risco econômico ilustram o quão profundas essas divisões demográficas deverão ficar no futuro. À medida que o país se torna cada vez mais não branco, no futuro, com milhões de jovens americanos sem uma formação universitária e menos propensos a se casar, a porcentagem da população na pobreza certamente crescerá. A "estrutura de oportunidades", em particular o mercado de trabalho, tem resistido a esses grupos há algum tempo. Além disso, nossas políticas sociais, como as reformas da saúde, habitação e educacional, pouco têm ajudado para solucionar essas desigualdades sistêmicas incrustadas na sociedade americana.

Corremos o risco de nos tornar uma sociedade economicamente polarizada em que uma pequena porcentagem da população está livre do risco econômico, ao passo que uma vasta maioria de americanos experimentará a pobreza como algo normal da vida.

Com nosso calculador, os americanos podem pela primeira vez examinar sua própria vulnerabilidade econômica. Nossa esperança é que essas informações sejam instrutivas e um chamado à ação. / Tradução de Terezinha Martino

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