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Maioria dos brasileiros não tem conta bancária

Exclusão bancária atinge 75% da população economicamente ativa, são trabalhadores informais e até empresários, residentes em duas mil cidades sem agência bancária. Bradesco e Caixa disputam pequenos municípios com rede alternativa.

Por Agencia Estado
Atualização:

Segundo cálculos da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), a exclusão bancária atinge 75% da população economicamente ativa do País. Por um lado, há o trabalhador informal, que não tem conta, e, portanto, crédito. O economista-chefe da Febraban e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Roberto Luis Troter, que também tem feito estudos sobre exclusão bancária para o Banco Mundial, alerta que a tributação das operações bancárias, além da alta taxa de juros que dificulta o crédito para aqueles de menor renda, ainda são obstáculos para a redução do alto grau de exclusão bancária no País. Segundo Troter, simulação desenvolvida pela Febraban dá conta de que, numa operação bancária típica, do total de juros pago pelo tomador do empréstimo, o governo fica com 44,23% dos encargos. Essa tributação aliada à alta taxa de juros, que desestimulas as operações de crédito, diz ele, são estímulo a exclusão bancária. Há também dois mil, dentre os 5.561 municípios brasileiros, sem nenhuma agência bancária; neles, alguns brasileiros com muito dinheiro, resultado das atividades no campo e no comércio. É isso que faz com que, dos 2 milhões de famílias com renda superior a 30 salários mínimos por mês não tenham conta em banco. Entre as seis milhões de famílias com renda de 10 até 30 salários minimos, 22% também estão fora da rede bancária, porcentual que chega a 37% entre os domicílios com renda de 5 a até 10 salários mínimos e 80% dos 10 milhões de domicílios com renda de 2 a 5 salários mínimos. Gente que se vê, em casos extremos, como pequenos empresários rurais e urbanos, obrigada a movimentar dinheiro em cidades próximas, onde há banco, e a guardar um pouco debaixo do colchão ou em cofres para as despesas correntes. Esse nicho é disputado palmo a palmo pelo Bradesco e a Caixa Econômica Federal desde o início do ano. No primeiro momento, o programa da Caixa visava ao atendimento da rede oficial no pagamento de benefícios sociais como o bolsa-escola, as aposentadorias, o bolsa-gás e outros para a população de renda baixa. Mas as movimentações estão surpreendendo o banco, que finalizou a instalação de correspondentes bancários - 61% deles funcionando em mercearias - e tem hoje cobertura em todos os municípios , inclusive os dois mil onde ainda não há agência bancária. O superintendente Nacional de Estratégia de Canais da Caixa, Luiz Carlos de Azevedo, diz que, de janeiro até o dia 13 de setembro, o número de transações nesses locais chegou a 5,7 milhões. No período, foram 2,5 milhões de recebimentos de contas de concessionárias (água, luz, telefone), 2,6 milhões pagamentos de benefícios sociais, correspondendo a 6,2 milhões de benefícios (uma transação paga todos os benefícios a que a pessoa tem direito) e 324 mil transações em conta-corrente e poupança, além de 38 mil pagamentos de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O Bradesco, que fechou contrato para transformar agências dos Correios nos chamados Bancos Postais também comemora resultados. Serão 5.299 agências postais ao custo de R$ 200 milhões, enquanto uma agência-padrão sai por R$ 150 mil. Conquistou até junho deste ano, num projeto formalizado em abril, 100 mil novos clientes, com 155 mil depósitos efetuados no valor de R$ 76 milhões. A expectativa do Bradesco é chegar a 3,5 milhões de novos correntistas, e o alvo são os 40 milhões de brasileiros economicamente ativos que estão fora da rede bancária. A estratégia do Bradesco, similar à da Caixa, é identificar nesses rincões os que têm dinheiro e estão fora dos bancos.

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