PUBLICIDADE

Publicidade

Mais da metade dos analistas espera redução de 0,75 ponto na taxa Selic

Em levantamento com 60 instituições, 41 apostam em corte de 0,75 ponto, 16 em 1 ponto e apenas 3 em 0,5 ponto

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Flavio Leonel e Francisco Carlos de Assis (Broadcast)
Atualização:

A maioria dos economistas do mercado financeiro acredita que o Banco Central terá uma postura menos agressiva, porém ainda de corte na taxa básica de juros, hoje em 10,25%, na reunião que o Comitê de Política Monetária (Copom) realizará na próxima semana, nos dias 9 e 10 de junho. De acordo com levantamento do AE Projeções com 60 instituições, mais da metade, ou 41, trabalha com uma expectativa de redução de 0,75 ponto porcentual, ante um grupo de 16 instituições que ainda vê espaço para redução de 1 ponto porcentual na Selic e apenas três economistas com estimativa mais conservadora, de corte de 0,5 ponto porcentual. Independentemente da direção que o Banco Central seguir, a Selic tende a cair a novos níveis históricos e, mais do que isso, ficar abaixo de dois dígitos, exigência de vários setores, há anos. Após o BC ter promovido três doses expressivas e consecutivas de cortes na taxa de juros, o grupo mais conservador acredita que chegou a hora de uma queda um pouco mais amena dos juros. O corte de janeiro foi de 1 ponto porcentual, o de março, de 1,5 ponto e o de abril, de 1 ponto. Agora, seria necessária, na opinião dos mais cautelosos, uma avaliação mais criteriosa do cenário atual, depois da observação dos primeiros sinais de que, talvez, o fundo do poço da economia doméstica tenha ocorrido entre o fim do quarto trimestre de 2008 e meados do primeiro trimestre de 2009. Para o grupo que acredita no corte de 0,75 ponto também é importante notar que, além dos sinais recentes de recuperação, outros fatores de peso reforçam uma linha um pouco menos agressiva do BC. Esses economistas citam a retomada do crédito e a delicada discussão sobre o fato de a poupança se transformar em aplicação mais atraente do que os investimentos atrelados à Selic. Quanto ao grupo mais ousado, que conta com mais uma redução de 1 ponto porcentual na taxa de juros em junho, os sinais de melhora na atividade econômica são ainda bastante tímidos. Esses analistas ponderam também que, num cenário que mostra a inflação controlada, o BC teria uma chance, como em poucas vezes na história, de trazer a Selic a um nível mais baixo antes da virada do semestre. A favor dessa corrente de analistas também pesa o rumo tomado pelo câmbio, especialmente a partir de maio. Se, de um lado, o dólar mais baixo é um risco a menos para a inflação, do outro juros altos como os brasileiros continuam a atrair investidores estrangeiros, o que pode resultar num círculo vicioso capaz de derreter o valor da moeda americana ante o real e prejudicar ainda mais a balança comercial de 2009. Justamente por essa grande quantidade de fatores para se analisar, essa reunião do Copom é considerada pelo mercado como mais difícil que as anteriores. Prova disso é que algumas instituições que já participaram de levantamentos do AE Projeções não haviam fechado uma projeção quando foi feita a pesquisa. As equipes ainda discutiam os prováveis cenários considerados pelo BC na reunião, que contará, para apimentar a discussão, com a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2009 no primeiro dia do encontro e com o anúncio do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio no dia da decisão final. Para enriquecer a discussão, vale lembrar que o próprio presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tem afirmado que o Brasil tem uma meta de inflação, e não uma meta de câmbio. Isso sinaliza que a autoridade monetária não vai usar a taxa de juros para interromper a desvalorização do dólar em relação ao real. Além disso, há pouco menos de um mês, o mesmo Meirelles disse, em entrevista coletiva no Rio, após encerramento do 11º Seminário Anual de Metas para a Inflação, que o Congresso Nacional seria o responsável pela queda maior ou não da taxa nominal de juros no País. Ele fez essa afirmação no contexto da discussão de que o rendimento da poupança, em algum momento, passaria a limitar uma queda maior da Selic. "O Congresso é soberano e, se sua decisão for por não tributar a poupança, é porque a decisão soberana foi pela não redução de juros", disse o presidente do BC. "Essa reunião está bastante difícil, no sentido de que o Meirelles tem feito declarações, ora favoráveis a um corte mais agressivo, e, às vezes, sendo um pouquinho mais conservador, diminuindo o ânimo dos investidores", disse a economista-chefe da Arkhe DTVM, Inês Filipa, que espera corte de 0,75 ponto porcentual na taxa de juros. Para o estrategista-chefe da Credit Agricole do Brasil DTVM, Vladimir Caramaschi, o BC reduzirá o ritmo de corte para 0,75 ponto. "Há alguns sinais de estabilização da economia e do crédito, principalmente. Acredito que o BC precisa considerar o efeito defasado das reduções que ele já fez e, por isso, faz mais sentido ele cortar de maneira um pouco mais devagar a partir de agora." Com expectativa idêntica e opinião semelhante, o sócio-diretor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud, acredita que o BC avaliará as mudanças entre o cenário do primeiro trimestre e o atual. "O BC vai dar uma desacelerada, ver se a crise não mostra nenhum rebote e, a partir daí, avaliar as condições e deficiências estruturais do Brasil para tomar novas decisões sobre juros." O economista da Mauá Investimentos Caio Megale trabalha com a estimativa de o Copom manter a trajetória de reduções mais agressivas, de 1 ponto porcentual, em junho. "Acredito que o BC manterá o passo, um pouco naquela linha de avaliação de que é preciso fazer a economia sair do lugar, tirando-a do atoleiro, mesmo que se corte demais agora e, depois, seja preciso subir lá na frente." Na Tendências Consultoria Integrada, o analista Gian Barbosa avalia que o corte de 0,75 ponto é o mais provável. "O BC deve manter a redução na Selic, mas isso será feito com uma postura pouco mais cautelosa."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.