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Mais da metade dos argentinos quer eleições já

Por Agencia Estado
Atualização:

Nunca antes na história da Argentina um governo esgotou tão rapidamente a paciência dos habitantes como a administração do presidente provisório Eduardo Duhalde. "El Cabezón" (O Cabeção), como é conhecido popularmente, nem completou cinco meses sentado no "sillón de Rivadavia" - como é conhecida a cadeira presidencial - e os argentinos já pedem eleições presidenciais diretas com urgência. Isso é o que indica uma pesquisa da Catteberg e Associados, que sustenta que 56% dos entrevistados querem que eleições o mais rápido possível. Somente 36% consideram que é mais conveniente que Duhalde permaneça até o fim de seu mandato, em dezembro de 2003. Em janeiro, durante o primeiro mês de gestão de Duhalde, a proporção de argentinos que desejava eleições era de 36%. Naquele momento, embora "El Cabezón" não fosse popular, predominava nos argentinos a idéia de que um mandato-tampão de dois anos era melhor que o caos que podia gerar a convocação de eleições presidenciais. No entanto, a seqüência persistente de fracassos do governo Duhalde, com o agravamento da recessão e a ampliação do "corralito" (o impopular semicongelamento de depósitos bancários) fez os argentinos preferirem correr o risco das eventuais turbulências eleitorais do que a lenta agonia econômica e social causada pela atual administração. Nas últimas semanas alastrou-se o temor de uma possibilidade concreta de hiperinflação, somado a um elevado repúdio popular a um hipotético acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) que poderia colocar as contas fiscais em ordem, mas que simultaneamente agravaria a recessão, que dura quase quatro anos. A Catteberg e Associados é uma empresa de pesquisa de opinião pública surgida a meados dos anos 90, e que nos últimos dois anos começou a tornar-se conhecida por suas pesquisas com uma ótica diferente às demais. Seguindo o lema que torna-se cada vez mais popular - "que se vayan todos" (que todos vão embora) -, os argentinos não querem somente eleições presidenciais, mas também pedem que ocorra uma renovação total dos cargos executivos (governadores) e parlamentares. A pesquisa indica que 90% dos argentinos querem eleições gerais, enquanto que somente 7% estão interessados em votar apenas para presidente. A pesquisa indica que se as eleições fossem hoje, seria a deputada Elisa Carrió, líder do centro-esquerdista Argentinos por uma República de Iguais (ARI), teria 18% dos votos. O deputado comunista Luis Zamora ficaria em segundo, com 10% dos votos. O terceiro colocado seria o ex-presidente Adolfo Rodríguez Saá, que governou o país de forma polêmica durante a última semana de 2001. Rodríguez Saá, do Partido Justicialista (Peronista), obteria 9% dos votos. Um dos dados mais surpreendentes da pesquisa é que os dois maiores partidos do país, o Peronista e a União Cívica Radical (UCR), que controlaram a política do país nos últimos 56 anos, juntos, com todos seus diversos pré-candidatos, não conseguiriam mais de 35% dos votos. Enquanto o governo Duhalde enfrenta o crescente descrédito popular, também se depara com graves problemas internos. Na última semana, a forma de terminar com o "corralito" causou profundas divergências entre o ministério da Economia e o Banco Central. Na sexta-feira, a tensão elevou-se tanto que o presidente do BC, Mario Blejer, esteve a ponto de renunciar. A saída de Blejer foi descartada, pelo menos por alguns dias, até que o ministro da Economia, Roberto Lavagna, retorne de Washington. Na terça-feira, na capital norte-americana, Lavagna se reunirá com o diretor do FMI, Horst Köhler. A idéia inicial do governo Duhalde é que o fim do "corralito" seja implementado através de uma troca dos depósitos e prazos fixos confiscados por bônus em pesos e dólares. Mas, enquanto o ministro Lavagna pretende que parte desta troca por bônus seja realizada de forma voluntária (para evitar um custo político elevado), o Banco Central prefere uma troca compulsória. O ministério da Economia acusa o BC de atender os interesses dos bancos. Por seu lado, o BC acusa o ministério que querer colocar o país no risco da hiperinflação, pois o plano de Lavagna também implicaria em maior liberação do dinheiro retido. O ministro Lavagna acusou os setores contra sua saída para o "corralito" de quererem "dolarizar" a economia. Segundo Lavagna, por trás dos rumores que circulam contra sua saída estariam bancos nacionais e estrangeiros. "Aqueles que querem assustar-nos com a hiperinflação são os mesmos que durante a última década nos levaram à hiper-recessão e ao hiperdesemprego", disse. No entanto, o economista Miguel Angel Broda, "guru" da city financeira portenha, considera que abandonar o "corralito" levará o país no caminho da hiperinflação. Broda é a favor de aumentar as restrições do "corralito". "Se o liberarmos, teremos um estouro cambial", afirmou, em declarações ao jornal "Clarín". Broda considera que o governo deve deter os processos na Justiça contra o "corralito", já que proporcionam uma contínua saída de fundos dos bancos. "O sistema financeiro está em uma etapa de agonia. Mas se liberarmos o corralito totalmente e esse dinheiro for para a compra de dólares, enfrentaremos dois problemas, porque os bancos possuem encaixes por 6 bilhões de pesos, enquanto que a demanda potencial poderia ser de 40 bilhões de pesos. Os bancos não estão em condições de enfrentar essa demanda, e como não enxergam nenhuma expectativa de qualquer contribuição de liquidez ou capitalização que lhes gere rentabilidade futura, tampouco trazem dinheiro de suas casas matrizes". O Banco Central argentino não está seguindo a política de ajuste pedida pelo FMI. A diretoria do BC determinou um aumento generalizado de 13% dos salários de seus funcionários, incluindo seus diretores. O aumento será retroativo ao dia 1º de maio.

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