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Mais do que os juros

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Por Redação
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O problema não são os juros básicos; é o spread - tem advertido o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. (Para quem não está familiarizado com jargões desse tipo, spread é a diferença entre o que o banco paga quando toma dinheiro emprestado e o que cobra do tomador de empréstimo. Aí não estão apenas os juros, estão também impostos, tarifas, comissões e taxas.) Quando Meirelles aponta o foco para o tamanho exagerado do spread, está dizendo pelo menos duas coisas. Primeiramente, os juros que o mercado paga não são a Selic, o nome técnico dos juros básicos. O mercado paga o que os bancos cobram. E esta despesa financeira é o que de fato pesa nos custos das empresas. Os juros básicos podem cair a níveis civilizados, mas, se o spread continuar como está (ou na mesma proporção), o problema continua sem solução. Portanto, os maiores críticos da política monetária estão gastando munição com o alvo errado. Os juros demoram para produzir efeitos, de seis a oito meses, mas são eficazes. Não fossem eficazes haveria menos reclamação contra os apertos monetários conduzidos pelo Banco Central. Desse ponto de vista, não vai ser uma diferença entre meio pontinho a menos ou a mais na Selic que reverterá imediatamente a atual desaceleração da indústria ou o risco de desemprego. Uma derrubada mais acentuada no spread, essa sim, teria impacto imediato e ela não depende do Banco Central. Em segundo lugar, Meirelles está desarmando a argumentação do Ministério da Fazenda, onde está a maior concentração de críticos dentro do governo da atual política de juros do Banco Central. E, no entanto, os bancos comandados pelo Ministério da Fazenda (por meio do Tesouro) estão entre os que mais castigam o mercado com spread e juros elevados. E eles são o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, que têm entre as funções não satisfatoriamente desempenhadas, ajudar o governo a reduzir o oligopólio bancário. O presidente Lula havia agendado para ontem uma reunião com Meirelles e o ministro Guido Mantega para definir uma estratégia cujo objetivo é derrubar o spread dos bancos estatais e, por tabela, dos demais. Mas essa reunião foi transferida para hoje, provavelmente para não criar ruídos especiais no dia em que o Copom estava definindo os juros. Ontem, o ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega advertiu no site Tendências On Line que a tentativa de derrubar na marra o spread dos bancos oficiais configuraria uma intervenção na política de preços praticados pelos bancos estatais capaz de criar esqueletos que teriam de ser cobertos pelo Tesouro. Se fosse apenas isso, Mailson estaria carregado de razão. No entanto, ocorre também o contrário. As estatais deste governo não estão no vermelho porque operam com preços artificialmente rebaixados. Na verdade vêm trabalhando com preços excessivamente elevados. E aí não estamos perguntando o porquê dessa ineficiência. É o consumidor que está sendo obrigado a refazer o caixa das estatais, como está acontecendo com os bancos e também com a Petrobrás, cuja gasolina hoje está entre as mais caras do mundo (excluídos os impostos). Mais do que se previa - A maioria das apostas concentrava-se em corte dos juros de 0,5 ponto ou 0,75 ponto porcentual. Mas, desta vez, o Copom foi além. Entendeu que a queda do consumo é forte e vai acentuar a queda da inflação.

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