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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Mais incertezas e em dose alta

O Brasil já vinha lidando com megadose de incertezas e agora tem nova fonte de pânico, o coronavírus

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Atualização:

E a aflição geral vai fazendo seus estragos, talvez mais até do que o próprio coronavírus. Na falta de conhecimentos sobre a doença, sua extensão e seu ciclo, as pessoas se apavoram e perdem o rumo.

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Uma das questões recorrentes da hora tem a ver sobre o impacto dessa epidemia sobre a atividade econômica mundial e sobre a do Brasil. Por mais que se espremam os miolos e se produzam gráficos nos computadores, não há resposta convincente a essa pergunta. Não há saída senão conviver, por enquanto, com alta dose de incerteza.

Ninguém sabe quando e a partir de que ponto o surto será contido. Num momento em que até o carnaval de Veneza e centenas de eventos esportivos ao redor do mundo são sumariamente cancelados, nem mesmo o organizadíssimo Japão sabe dizer se os Jogos Olímpicos serão realizados a partir do início de julho, como programado, ou mesmo se serão realizados sem presença de público.

E, no entanto, as Olimpíadas são um evento em que estão em jogo centenas de bilhões de dólares em obras de infraestrutura, patrocínios de todas as magnitudes, passagens aéreas, serviços de hotelaria, contratos de TV, vendas de materiais, realização de shows e de eventos paralelos com artistas e profissionais de tantas áreas.

Coronavírus visto de uma imagem de microscópio Foto: National Institutes of Health (NIH)

Graus de incerteza equiparáveis a essa rondam o comportamento da economia mundial. Não está claro, por exemplo, de quanto será a quebra do PIB da China, segunda economia do mundo, a que mais cresceu nos últimos 20 anos, país onde o coronavírus começou a produzir estragos e a se difundir. Alguns observadores falam em redução do crescimento econômico da China dos 6% antes previstos para alguma coisa em torno de 4%. Mas, nas atuais condições de desconhecimento da trajetória de tantas variáveis, projeções como essa não passam de palpites sujeitos a distorções. Pode acontecer até mesmo que, em algumas semanas, o perigo maior tenha ficado para trás.

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Como a China é grande importadora de matérias-primas e o Brasil, grande exportador; como o desempenho da economia mundial será irremediavelmente prejudicado, embora não se saiba ainda em que proporções, não é possível ter ideia da quebra de faturamento em dólares no comércio exterior do Brasil. Nem seu impacto sobre a economia interna.

O que se pode dizer é que, desta vez, há forte mobilização mundial em direção ao controle da doença. Cidades inteiras estão sendo esvaziadas na China, indústrias pararam de funcionar, hospitais inteiramente equipados vêm sendo construídos em até dez dias, informações cada vez mais rigorosas estão sendo disponibilizadas online para os centros de saúde ao redor do mundo e poderosas organizações vêm trabalhando arduamente para obter vacinas para o combate direto ao flagelo.

Isso não é pouca coisa, mas não elimina nem as incertezas nem o pânico que se espraia, às vezes do nada, simplesmente porque se desconhece a capacidade letal do coronavírus.

O Brasil já vinha lidando com megadose de incertezas, acrescidas pelos ataques de Bolsonaro contra o Congresso e o Supremo. Agora, tem de viver com mais essa nova fonte de pânico, desta vez asiática.

CONFIRA

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» O salto do CDS5

Depois de uma semana abaixo dos 100 pontos, o principal indicador de risco dos títulos do Tesouro de 5 anos, o CDS (Credit Default Swap), deu um pinote. Nesta quinta-feira, atingiu os 123 pontos, como mostra o gráfico. A principal razão da percepção de aumento do risco dos títulos do Brasil não foi a exposição da economia brasileira à epidemia do coronavírus, mas as novas incertezas geradas pelas ameaças de crise institucional, pelos ataques do presidente Bolsonaro ao Congresso e ao Supremo.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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