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Malan diz que responsabilidade agora é dos candidatos

Por Agencia Estado
Atualização:

Confrontado com a ingrata missão de convencer os investidores internacionais sobre a continuidade da política econômica do atual governo numa administração comandada pelo seu principal opositor - o candidato do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva a oposição, franco favorito nas eleições presidenciais do próximo domingo -, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse que há limites no que pode fazer e exortou "os principais candidatos" a reafirmar os compromissos que assumiram no mês passado de respeitar os elementos centrais do acordo que o País firmou com o Fundo Monetário Internacional (FMI). "O momento exige serenidade e tenho confiança de que o País vai vencer as dificuldades, como as que venceu no passado, mas o que nós podemos fazer vai até certo ponto", disse ele à reportagem, na tarde da última sexta-feira, numa entrevista concedida entre encontros com representantes de governos e de bancos de investimentos que não paravam de chegar ao gabinete do diretor do Brasil no FMI, Murilo Portugal, em busca garantias de que Malan não estava em condições de oferecer. "A responsabilidade é dos principais candidatos, é daqueles que acham que assumirão a administração do País no ano que vem; são eles mesmos que têm que convencer quem precisa ser convencido, quem está inquieto, de que as manifestações que fizeram (no mês passado) em declarações públicas, em carta ao povo brasileiro, são críveis e que representam um compromisso não apenas passageiro, de momentos que antecederam as eleições, mas uma reflexão séria e uma garantia de que, de fato, os compromissos serão preservados", disse um visivelmente cansado ministro da Fazenda, que participa neste fim de semana de sua última reunião anual do FMI e do Banco Mundial como representante do Brasil. "Tenho dito claramente aos meus interlocutores: não posso falar pelos candidatos", continuou. "Posso mostrar as declarações que eles fizeram, mas não tenho dúvida de que ajudaria enormemente o País, neste momento, se eles (os candidatos) fossem capazes de ratificar os compromissos que assumiram, pois existem de fato dúvidas sobre a coerência e a consistência do conjunto de políticas que uma futura administração colocará em prática a partir de 1.º de janeiro de 2003". Num alerta obviamente endereçado a Lula, Malan disse que o sucessor eleito do presidente Fernando Henrique Cardoso não poderá esperar até a posse para assumir o ônus de quem vai governar o Brasil. "Os livros de história registrarão que Fernando Henrique Cardoso foi responsável por tudo o que aconteceu até 31 de dezembro de 2002, mas, no mundo real, não funciona assim: somos hoje e seremos cada vez mais, nos dias que faltam para completar este ano, afetados pelas expectativas sobre o curso futuro dos eventos e das políticas da próxima administração", disse o ministro da Fazenda. "Por paradoxal e irônico que possa parecer, às vezes as conseqüências vêm antes e não depois, elas são antecipadas", advertiu ele. Malan lembrou que foi por compreender a importância do papel que as expectativas em relação a um futuro governo têm neste momento que os candidatos reuniram-se com o presidente da República no Palácio do Planalto, no dia 19 de agosto, para ouvir a explicação sobre os compromissos que o País assumiu ao firmar um acordo com o FMI, que garantirá o financiamento externo em 2003. Programas firmados com o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento trarão outros US$ 7 bilhões no primeiro ano na próxima administração. "Isso foi entendido pelos candidatos e é parte integrante do processo de transição de governo, que vamos intensificar com uma interação muito próxima nos meses de novembro e dezembro com a equipe a ser indicada pelo presidente eleito", disse o ministro da Fazenda. "Nós queremos que o Brasil dê certo, supere essa turbulência e é evidente que isso também é do interesse da equipe que estará entrando". Para Malan, "quem está pensando no Brasil, neste momento, deve entender que a maneira de superar a turbulência inclui, entre outras coisas, reduzir a incerteza sobre o futuro deixando claro, desde já, seu compromisso com as coisas básicas: a responsabilidade fiscal, ou seja, a manutenção do saldo primário necessário para manter a relação dívida/PIB numa trajetória descendente; o controle da inflação e o respeito aos contratos que o governo federal firmou não apenas no exterior, com o FMI, o BIRD e o BID, mas também dos contratos domésticos assinados com os governos de 25 Estados e de 173 municípios". Confiança - O apoio das instituições financeiras no Brasil "traduz uma confiança que não está solta no ar", disse o chefe da equipe econômica, repetindo que tem dito aos investidores. "Ela está baseada na grande transformação estrutural que a economia brasileira passou nos últimos anos, refletida, em parte, num enorme aumento de produtividade no agronegócio e em vários setores da indústria". Malan assinalou que o saldo comercial de US$ 5 bilhões previsto inicialmente já está em US$ 7 bilhões, lembrou que o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos caiu pela metade desde o início do governo e que não há razão para preocupação com a capacidade do País de honrar os compromissos de suas dívidas interna ou externa. Perguntado sobre a situação um tanto irônica que vive no momento, de tentar convencer os investidores de que o Brasil não passará pela mudança dramática que eles temem, numa administração Lula, Malan fez questão de lembrar que tem candidato. "Ele se chama José Serra, estou convencido de que é o mais preparado para administrar o País e ele terá o meu voto", disse. "O que eu me sinto no direito e na obrigação de fazer, como ministro da Fazenda, é lembrar aos meus interlocutores que o Brasil é uma democracia, que o povo escolherá o novo presidente e que não acho que será uma catástrofe de grandes proporções se a vontade popular for na direção de outro candidato", disse. Por que? "A razão é que, em anos recentes, houve um movimento muito importante no Brasil rumo à racionalidade no tratamento das questões econômicas básicas como a estabilidade dos preços, a responsabilidade fiscal e o cumprimento de contratos", explicou. "A questão, no momento, não é se eu estou convencido disso, mas sim saber se essa mudança rumo à racionalidade está sendo convincentemente transmitida aos agentes econômicos tanto no Brasil como no exterior - e isso deveria ser a preocupação dos principais candidatos e das pessoas próximas a eles". Como vem dizendo nos últimos dias, Malan repetiu que a pressão sobre o câmbio é uma reação exagerada dos investidores diante das incertezas do momento e previu que o real apreciará e as conseqüências da forte desvalorização serão naturalmente absorvidas, se "os principais candidatos" fizerem o que precisam fazer para tranqüilizar o mercado. "Não podemos ter uma visão de curto prazo e nos deixar levar por pânicos e sobressaltos", disse. Mas ele advertiu que o contexto internacional da crise de confiança que o País enfrenta é "muito mais adverso" do que o das várias turbulências que o Brasil enfrentou nos últimos anos, a começar pelos efeitos da crise mexicana, que dominou a primeira reunião do FMI na qual participou como ministro das Finanças, em abril de 1995. E isso é mais uma razão para que "quem acha que estará governando o Brasil no ano que vem" dirimir as dúvidas sobre o rumo da política econômica.

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