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Manifesto propõe reforma do comércio agrícola

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma força-tarefa composta por dirigentes de pesos-pesados como Cargill, Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio, Coca Cola, Sadia, Unilever, Agência Católica para o Desenvolvimento e mais 25 entidades defendeu, num manifesto, a reforma do comércio agrícola. O documento critica o protecionismo nas economias do Primeiro Mundo e os subsídios que distorcem o mercado e derrubam os preços. Se o comércio agrícola for liberalizado, as economias em desenvolvimento deverão ter um ganho de renda de US$ 150 bilhões em 2015. As demais economias deverão ter um benefício de US$ 100 bilhões naquele ano, segundo estimativa do Banco Mundial, citada no documento. O grupo, criado pelo Fórum Econômico Mundial na reunião do ano passado, em Davos, dirigiu as recomendações aos governos participantes da nova rodada global de negociações comerciais. Essa rodada foi lançada em Doha em novembro do ano passado e seus trabalhos começaram em Genebra no fim de janeiro. O futuro do comércio agrícola foi um dos principais temas econômicos da reunião do Fórum, em Nova York. O ministro brasileiro da Agricultura, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, propôs num debate, nesta manhã, que o subsídio interno aos agricultores, no mundo rico, seja desvinculado da produção. Nos Estados Unidos, o governo complementa a renda do agricultor pagando a diferença entre o preço de mercado e um preço-alvo. Essa diferença tem ultrapassado 20%, em alguns casos. Políticas desse tipo, segundo os críticos, favorecem a superprodução e derrubam os preços de mercado, com prejuízos para produtores de outros países. Com a desvinculação, os governos poderão complementar a renda dos agricultores, principalmente dos pequenos, sem estimular o excesso de produção e sem reduzir os preços de mercado, argumenta Pratini. Será uma forma, segundo ele, de eliminar uma distorção sem deixar de assistir as famílias de agricultores. US$ 327 bi para proteger agricultores Os gastos com a política agrícola chegaram a US$ 327 bilhões nos países do Primeiro Mundo, em 2000, segundo cálculo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), também citado no documento da força tarefa. Esse valor é maior que a receita de exportação agrícola dos países em desenvolvimento, naquele ano, cerca de US$ 170 bilhões. Segundo o Banco Mundial, os gastos com agricultura equivalem a 1,3% do Produto Interno Bruto dos países da OCDE, e são mais que seis vezes o valor da ajuda ao desenvolvimento. O protecionismo agrícola é muito maior que o industrial, apesar das mudanças previstas na Rodada Uruguai de negociações comerciais, encerrada em 1994. A tarifa média global para produtos agrícolas é 62%, segundo o Banco Mundial. A tarifa média para os demais produtos é 4%. A agricultura, de acordo com o banco, emprega 65% da força de trabalho nos países pobres, 28% nos de renda média (que incluem o Brasil e a maior parte da América Latina) e apenas 2% nos países de renda mais alta. Melhores condições de acesso aos grandes mercados, para produtos das economias em desenvolvimento, devem facilitar, portanto, o combate à pobreza. Produtividade sem mercado Mesmo nos países de renda média, com alta produtividade agrícola e bem desenvolvida atividade agroindustrial, as condições de competição internacional são desfavoráveis, por causa dos subsídios e da proteção nos principais mercados. O presidente da Sadia, Luiz Fernando Furlan, veterano participante do Fórum e membro da força tarefa sobre comércio agrícola, repetiu dados sobre produção e produtividade brasileiras em várias ocasiões, nos últimos dias. Sua empresa, disse, é a 12ª maior exportadora do Brasil e vende para 60 países, mas não consegue entrar nos mercados da América do Norte. O mesmo discurso foi apresentado pelo presidente do Grupo Bunge, quinto maior exportador brasileiro, Alberto Weisser, numa reunião promovida pela Câmara de Comércio Brasileiro-Americana.

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