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Mansueto diz ser a favor de 'mudança tributária' que ofereça segurança ao investidor

O secretário do Tesouro Nacional também criticou o alto déficit fiscal

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Francisco Carlos de Assis (Broadcast)
Atualização:

O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, defendeu uma mudança na estrutura tributária do País que ofereça segurança e previsibilidade ao investidor, em evento da Amcham, nesta quinta-feira, 7, em São Paulo.

Mansueto Almeida disse também que o Brasil tem muitos desafios pela frente. Foto: Gabriela Biló/Estadão

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"A gente precisa se preocupar menos com o que o governo pode fazer para crescer 4%, 4,5% e mais com que o governo pode fazer para deixar o empresário de fato investindo com segurança, ter o mínimo de previsibilidade, segurança de que não haverá mudanças de regras tributárias e regras regulatórias muito mais claras", disse ele, citando exemplos dos EUA e Reino Unido que não têm o costume de crescer 5%, 6%, 7% ao ano.

Ele disse também que o Brasil tem muitos desafios pela frente e uma situação econômica ainda muito delicada porque se trata de um país de carga tributária e déficit fiscal altos. De acordo com ele, a carga tributária brasileira é de 33% a 34% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a média da América Latina é de 23% do PIB.

"Estamos falando de um País que tem uma dívida muito superior à média dos emergentes, que é inferior a 50% do PIB. A dívida bruta do setor público do Brasil está perto de 77% do PIB. Pela metodologia do FMI, é acima de 80%. Ou seja, o Brasil tem um endividamento muito superior ao dos países emergentes. O Brasil tem uma dívida e uma carga tributária muito altas, sem contar que tem um déficit fiscal também muito alto."

Isso preocupa, segundo Mansueto, porque, dado que a carga tributária é muito elevada, o ajuste tem que vir dos cortes de despesas. A tarefa se torna mais difícil porque 92% do Orçamento é obrigatório. Segundo ele, é um Orçamento quase todo carimbado que não permite ajuste fiscal muito rápido. Nos Estados Unidos, por exemplo, de acordo com o secretário, despesas com pessoal, por exemplo, não entram nas despesas obrigatórias.

Estrutura tributária

O secretário reforçou que para crescer de forma consistente o País precisará mudar a sua estrutura tributária. O Brasil tem muitos problemas e um deles, de acordo com secretário, é a elevada carga tributária dado o índice de desenvolvimento do País. E não é só a questão do tamanho da carga tributária que impede a economia de crescer mais, conforme Mansueto.

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"O Brasil além de ter uma carga tributária muito elevada tem regras tributárias muito complexas", disse Mansueto. De acordo com ele, pior que uma carga tributária elevada e complexa são os investidores domésticos e estrangeiros não terem como se proteger em suas decisões de investir contra as mudanças frequentes nas regras tributárias.

O secretário disse que certa vez ouviu de um investidor que o tamanho e a complexidade da carga tributária conseguia embutir nos preços de seus produtos – que eram mais altos que nos Estados Unidos e na França – mas que não era possível se planejar nem repassar para os preços as constantes modificações das regras no Brasil.

Essas mudanças, segundo Mansueto, quando as regras são mudadas o impacto se dá no plano de investimento de 15 a 20 anos. "Isso é uma verdade e parte do fato de termos um sistema tributário complexo. O que se paga de imposto de renda no Brasil não depende da sua renda. Depende do seu contrato de trabalho. Se você é um advogado que ganha de R$ 15 mil a R$ 20 mil por mês sua alíquota pode ir a 14% e, se você é contratado, a sua carga tributária ultrapassa 25%", disse, acrescentando que o que se paga de IR no Brasil não tem a ver com a renda.

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Para o secretário, essa situação não é diferente do era cinco, oito anos atrás. O que se sabe, de acordo com ele, é que para o Brasil crescer de forma consistente é preciso mudar este cenário.

"E quando eu falo em mudar este cenário não significa ter planos de governo. Eu não gosto de planos de governos de incentivos a setores. Eu não gosto de planos de governo que visam a crescimentos de curto prazo e milagres econômicos porque, em geral, quando a gente olha o histórico de países que conseguiram se tornar desenvolvidos, com exceção dos asiáticos, são países como Estados Unidos e Reino Unido que no pós-guerra passaram mais de meio século crescendo de forma consistente", disse.

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