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Mantega: FMI deve ser mais ágil para ajudar contra crise

Por ADRIANA GARCIA
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A turbulência financeira nos países ricos ainda não contaminou os mais pobres, mas o Fundo Monetário Internacional deveria estar melhor preparado para ajudá-los caso isso ocorra, o que também agradaria os que perderam com a reforma no sistema de cotas do FMI, disse neste sábado o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Num comunicado divulgado durante os encontros de primavera do FMI, no qual fala em nome de Brasil, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, Suriname e Trinidad Tobago, Mantega voltou a defender a criação de uma linha de empréstimo rápido para emergências. "Até agora, o problema ainda não se espalhou para esses países. Mas a possibilidade não pode ser descartada", avaliou o ministro no documento. "Numa crise sistêmica, países em desenvolvimento podem ter de lançar mão dos empréstimos do Fundo para fazer face, na maioria dos casos apenas parcialmente, ao problema da liquidez, o que implica ajustamento econômico e condicionalidades." Uma proposta assim também poderia compensar aqueles países que perderam poder com a recente reformulação nas cotas e no poder de voto do Fundo. A reforma do FMI deve ir a votação no próximo dia 28 e depende da aprovação de 85 por cento dos 185 países que o compõem. Brasil e México ganharam mais poder com a reforma, mas os demais países da América Latina não. Outros, como Venezuela e Argentina, perderam representatividade e a medida ajudaria a compensar os insatisfeitos. "Isso representaria uma proposta concreta da instituição à crise atual. Seria uma compensação para os países que não tiveram aumento de cotas nessa rodada ou que tiveram aumentos muito modestos", acrescentou Mantega no comunicado. Fontes do Ministério da Fazenda acrescentaram que o diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, pediu a Mantega para interceder junto aos argentinos e aos russos, que estão se opondo a votar a favor das mudanças. MAIS AGILIDADE Mantega disse que o FMI deveria criar fundos ágeis semelhantes aos utilizados pelos bancos centrais de países ricos ao lidar com a turbulência atual. "Seria preciso examinar a possibilidade de aparelhar esta instituição com mecanismos de empréstimos de curto ou curtíssimo prazo, a serem fornecidos rapidamente a países-membros que estivessem se defrontando com problemas de liquidez", afirmou. Atualmente, um país só pode tomar emprestado do Fundo o limite de três vezes sua cota de contribuição ao organismo, o que limita a capacidade de ajuda aos países mais pobres em momentos de crises, indicou. Outra proposta seria a criação de um novo, e controverso, instrumento de prevenção de crises, como a chamada Linha de Acesso Rápido (RAL, na sigla em inglês), que os países poderiam acessar ao enfrentar problemas. A proposta é polêmica e tem avançado lentamente porque traz consigo o perigo de chamar a atenção do mercado internacional para países que estão enfrentando problemas, o que poderia criar uma crise de confiança e piorar a situação. De forma geral, Mantega disse que a reforma do fundo não é ideal, mas é um passo importante para uma modernização do FMI que reflita o crescente peso dos países emergentes no mundo. (Edição de Daniela Machado)

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