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Mantega nega falta de crédito e diz que BC tem 'bala na agulha'

Em entrevista ao 'Estado', ministro afirma que BC está preparado para suprir eventual escassez de empréstimos no País

Foto do author Adriana Fernandes
Por Adriana Fernandes e BRASÍLIA
Atualização:

Preocupado com a onda de pessimismo provocada pela crise internacional, que ganha cada vez mais espaço no Brasil, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou ontem que haja uma crise de crédito no País para os exportadores, empresas e pessoas físicas. Em entrevista ao Estado, o ministro reconheceu o impacto da crise internacional no crédito - restrito a alguns nichos da economia -, mas insistiu em que o cenário não fugiu ao controle do governo. Mantega disse que o Banco Central (BC) está "a postos" e tem "bala na agulha" para oferecer leilões de dólares aos exportadores. O BC poderá, se for necessário, liberar parte do dinheiro que os bancos são obrigados a manter depositados na instituição - os chamados depósitos compulsórios - para irrigar o crédito no mercado interno. Outra arma dentro no arsenal do governo é o uso novamente dos bancos públicos para aumentar a oferta de crédito e reduzir as taxas de juros. "Usamos em 2009 e eles continuam aí", disse. Mas a principal artilharia do governo, que o ministro classificou de "antídoto" à restrição do crédito, é mesmo a flexibilização da política monetária, iniciada em agosto com a redução da taxa básica de juros (Selic). "Esse antídoto vai surtir efeitos", disse ele, acrescentando que não faltará crédito para o crescimento da economia em 2012. Monitoramento. Num sinal de que o governo acompanha com atenção os desdobramentos da crise no Brasil, o ministro contou que está fazendo junto com o BC um monitoramento diário do comportamento do crédito e também tem conversado com dirigentes de instituições financeiras para acompanhar o quadro. Segundo o ministro, a restrição de crédito é muito limitada a determinados nichos de mercado. Ele admitiu que os bancos pequenos e médios estão sofrendo mais por causa do encarecimento do crédito no exterior. Por enquanto, disse, não vê necessidade de retirar a cobrança de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para empréstimos externos até 720 dias, medida adotada no início do ano quando o Brasil vivia um quadro de enxurrada de dólares. O ministro manifestou grande preocupação com notícias apontando para um cenário de falta de crédito. "Não é verdade", disse. Em 2011, ele previu que tenha ocorrido uma expansão de 17% do crédito. Mantega afirmou que Banco do Brasil e Bradesco, que são os dois maiores fornecedores de Adiantamento de Contratos de Câmbio (ACCs) - principal fonte de financiamento dos exportadores - continuam expandindo as suas linhas. "Não é que falte crédito. Ficou mais caro", disse. Queda. Apesar das declarações de confiança de Mantega, o BC divulgou ontem dados que mostraram queda superior a 20% nas principais linhas de financiamento à exportação, na comparação entre a média diária de novembro e o registrado no início de dezembro. Nas duas primeiras semanas do mês, bancos concederam média diária de US$ 132,4 milhões em crédito na principal linha aos exportadores, o ACC. O valor é 21,8% menor que em novembro e é a menor média de 2011. Em tendência idêntica, outro financiamento ao comércio exterior conhecido como Pagamento Antecipado (PA) teve queda de 27,8% e ficou em US$ 108 milhões a cada dia. Empresas exportadoras têm afirmado que a oferta de financiamentos tem diminuído especialmente nos bancos estrangeiros. Um importante nome do segmento diminuiu drasticamente a oferta de recursos nas últimas semanas por eventual problema da sede. Bancos brasileiros, por sua vez, estariam mais bem capitalizados. O Banco do Brasil, por exemplo, prevê alcançar recordes neste e no próximo ano. A instituição já emprestou US$ 16,8 bilhões ao exportador em 2011, acima do recorde alcançado em 2007, de US$ 15 bilhões. Para 2012, o banco espera um "pequeno crescimento" em relação ao fechamento de 2011. Os números do BC também mostram que dólares continuam deixando o Brasil via operações financeiras. Esse segmento foi responsável pela saída de US$ 890 milhões nas duas primeiras semanas do mês. / COLABORARAM FERNANDO NAKAGAWA e EDUARDO CUCOLO

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