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Mantega questiona preparo do FMI para crise recente

Por Nalu Fernandes
Atualização:

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, questionou o preparo do FMI para enfrentar a crise recente dos mercados financeiros e cobrou avanços na reforma do Fundo sob o risco de que países em desenvolvimento tomem o "próprio rumo" se não houver ampliação nas cotas destas economias ou se houver apenas um "simulacro de reforma" da instituição. Em discurso ao Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IMFC), o ministro afirmou que "Fundo mostrou-se desaparelhado para fazer face a turbulência do mercado". "Ficou claro que o corpo técnico desta instituição precisa aprimorar seu conhecimento dos mercados financeiros", disse no discurso. O ministro questionou também se não estaria faltando "equilíbrio" ao Fundo. Mantega cobrou a diferença de tratamento do FMI na crise atual em comparação às recomendações do Fundo feitas em crises anteriores, que tiveram foco nos emergentes. "Quando estouraram as crises na América Latina e na Ásia, o FMI logo apareceu com um pacote padronizado de recomendações na área macroeconômica, na área financeira e em outros campos. Nenhuma inibição de expressar opiniões e ditar políticas". Agora, acrescentou o ministro, "o Fundo mostrou-se excessivamente cauteloso em suas recomendações". No discurso aos ministros da Fazenda e presidentes dos BCs dos 24 países no Comitê do FMI, Mantega destacou a necessidade de avanços na definição de nova fórmula para o cálculo de cotas de representação no Fundo. O lento progresso, afirmou, deve-se "à resistência à mudança por parte de países desenvolvidos". Um ajuste modesto na questão de cotas deverá fazer com que "os países em desenvolvimento, ou boa parte deles, tomem seu próprio rumo", acredita o ministro. "O Brasil pouco poderá fazer para impedir essa tendência", avisa. "Para que o Fundo tenha legitimidade é essencial que a reforma de cotas tenha como resultado um substancial deslocamento de poder de voto dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento", completou. Diante do fato de a turbulência recente ter sido iniciada nos EUA, o ministro ressaltou o que classifica como "ironia da situação" resumindo que os países que foram referência da boa governança são os países que "colocam em risco a prosperidade da economia mundial".

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