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Mantega rebate críticas do mercado ao BC

‘Até outro dia o BC estava subindo juros e ninguém falava nada’, afirmou o ministro

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Francisco Carlos de Assis (Broadcast), Ricardo Leopoldo e da Agência Estado
Atualização:

O ministro Mantega rebateu nesta sexta-feira, 2, as críticas que analistas de mercado estão fazendo ao Banco Central desde quarta-feira, quando o Copom reduziu a taxa Selic de 12,5% para 12% ao ano. O ministro disse que não entende as críticas "porque até a reunião do Copom, o que eu lia em todos os jornais era que havia um consenso em torno da piora da economia internacional e que a taxa de juros devia cair".

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Sobre as dúvidas levantadas a respeito da independência do Banco Central, Mantega disse que "até outro dia o BC estava subindo juros e ninguém falava nada". "O BC estava aumentando juros agradando ou não o governo porque ele tem suas avaliações do cenário internacional e toma suas decisões", afirmou.

Mantega discordou também de comentários segundo os quais o Ministério da Fazenda teria sido mais eficaz no gerenciamento das expectativas do que o próprio BC. "Não concordo com essas afirmações. Nos fizemos a nossa parte com o anúncio de corte de gastos e o BC fez a sua avaliação", disse. De acordo com ele, a percepção dentro do governo é de que a crise econômica é deflacionária, justificando a queda de juros. "O presidente do Banco Central é especialista nisso e teme a deflação", afirmou o ministro.

Mantega declarou ainda que a taxa de juros brasileira é mais conservadora do que as do resto do mundo. "Não estou aqui fazendo uma crítica ao BC. A inflação dos demais países emergentes está chegando perto da nossa e, no entanto, a taxa de juros desses países é mais baixa do que a brasileira, que é a maior do mundo", disse. O ministro ponderou que a vocação do BC é mesmo ser conservador, "mas com limites".

Mantega afirmou que o governo está sempre atento para desindexar a economia, o que é positivo para a estabilidade econômica do País. Ontem, com o início do ciclo de queda de juros, surgiram rumores, em Brasília, de que o governo estaria prestes a adotar medidas para reduzir a participação dos títulos atrelados à Selic, que representam 33,2% do total da Dívida Pública Mobiliária interna, e também para alterar a remuneração da caderneta de poupança. Em meados de 2009, quando a Selic atingiu 8,75% ao ano, ocorreu um debate no governo, que contou inclusive com a participação do Banco Central, sobre a necessidade de alterar os rendimentos da poupança, pois caso a Selic caísse ainda mais haveria risco de migração maciça de investimentos de fundos para a caderneta. "Não há nenhuma medida hoje sobre redução da participação dos títulos públicos indexados à Selic. O Tesouro Nacional tem uma programação anual relativa ao PAF (Plano Anual de Financiamento) que está sendo obedecida", comentou Mantega. "Também não há nada relacionado a mudanças na caderneta de poupança. Se o ministério e o governo não anunciam alterações de forma oficial, portanto o que ocorre é especulação."

Queda dos juros é bom antídoto para combater valorização cambial

Mantega afirmou que o recente movimento de depreciação do real ante o dólar, que fez com que a cotação atingisse hoje R$ 1,6410, é um reflexo da redução dos juros, de 12,50% para 12%, pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Segundo ele, essa mudança também está relacionada à fraqueza da economia mundial. "O Brasil está ajudando na valorização do dólar", comentou Mantega. "Câmbio a R$ 1,63 ajuda", ressaltou o ministro. "Queda de juros é bom antídoto para combater valorização cambial", disse.

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O ministro também destacou que fez efeito para a recente mudança do patamar de câmbio a adoção da taxa de 1% de IOF sobre a diferença de operações vendidas e compradas no mercado futuro de dólar superiores a contratos de US$ 10 milhões. O ministro ressaltou que os princípios adotados pela taxação não vão ser alterados, embora, eventualmente, algumas alterações pontuais possam ser adotadas para melhorar questões operacionais. Ele exemplificou que um tema que está sendo avaliado é a forma de cobrança de IOF pela BM&FBovespa junto a investidores. "As medidas acalmaram mercados de derivativos", disse Mantega.

O ministro da Fazenda afirmou ainda que com o câmbio, as contas externas devem melhorar no 3º trimestre. 

(Texto atualizado às 14h48)

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