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Mantega: sem medidas, dólar estaria abaixo de R$ 1,50

Por Daniela Milanese
Atualização:

Se o Brasil não tivesse adotado medidas para conter o fluxo de recursos externos, o dólar estaria abaixo de R$ 1,50, avalia o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo ele, a volatilidade cambial foi reduzida no País. Mantega acredita que o fluxo de recursos continuará subindo, mas avalia que não necessariamente o Brasil terá de adotar novas medidas cambiais para conter o fluxo de capital estrangeiro. "Temos certa estabilidade", afirmou. Ele reiterou que seguirá observando os movimentos do câmbio e, se houver novo fluxo forte de dinheiro rumo ao Brasil, pode voltar a agir.Mantega participou hoje à tarde de reunião dos países membros do BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China e agora a África do Sul) preparatória para o encontro ministerial do G-20, que começa hoje, em Paris. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, também esteve presente. Após a reunião, Mantega seguiu para o Palácio do Eliseu, para recepção pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy. Amanhã, os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G-20 passarão o dia reunidos.Para Mantega, o real deveria ser incluído na cesta de moedas do Fundo Monetário Internacional (FMI) - os direitos especiais de saque (SDRs, na sigla em inglês). Ele acredita que o mundo precisa transitar para um modelo multipolar de moedas, como forma de criar alternativas ao dólar.Mantega argumenta que os Estados Unidos perderam a posição de mais representativos para o comércio internacional, ultrapassados pela China e a Alemanha. Nesse sentido, uma solução seria dar mais importância e conversibilidade aos SDRs, hoje compostos por quatro moedas. Para isso, o FMI precisaria se transformar num banco global emissor.O real deveria ter lugar na cesta do FMI porque está ganhando representatividade e supera as transações com o iene (moeda japonesa) no mercado de derivativos, alega Mantega. Ele também defende a entrada do yuan (moeda chinesa) nos SDRs. "Isso também tiraria um peso das costas dos EUA, pois atrapalha na hora de fazer política monetária", afirmou o ministro.O Brasil possui uma visão diferente dos EUA sobre a questão do câmbio da China, disse Mantega. Ele acredita que os países avançados também têm responsabilidade pelos desequilíbrios globais. "Não existe um único responsável", disse na entrevista após a reunião do BRIC. Conforme o ministro, diversos países possuem o câmbio administrado e o ideal seria que abandonassem ou limitassem a prática. Ele reiterou que a política monetária frouxa dos EUA provoca desequilíbrios.ParâmetrosNão existe consenso entre os membros do G-20 sobre o tratamento dos desequilíbrios globais, um dos temas mais polêmicos em debate atualmente. Alguns países querem definir índices e estabelecer limites para os déficits e superávits. O ministro brasileiro da Fazenda acredita que é possível construir parâmetros, mas é preciso escolher quais seriam os melhores indicadores para mensurar a questão.Os países do BRIC concordaram hoje que, de qualquer forma, o controle desses indicadores não pode ser obrigatório."Deve ser apenas uma recomendação aos países", afirmou. Entre os BRICs, existe o consenso de que a área fiscal deve ser considerada para a análise dos desequilíbrios globais. Entretanto, há divergências no que se refere ao lado comercial e de conta corrente.No caso da conta corrente, existe uma restrição porque ela abrange também a conta financeira, que inclui aplicações financeiras no exterior, não necessariamente um sinal de desequilíbrio. Os BRICs avaliam que seria melhor usar a conta de bens e serviços. "Ainda temos desequilíbrios porque alguns países desenvolvidos não se recuperaram da crise", disse Mantega.TransparênciaApesar de ser contra o controle dos preços das matérias-primas (commodities), o Brasil é a favor do aumento da transparência no mercado de derivativos de commodities para conter a especulação com os alimentos, afirmou Mantega em Paris.O tema é um dos mais polêmicos entre os membros do grupo, já que a França levantou a preocupação com a disparada nos preços no cenário internacional. Mantega disse que é contra a administração de um estoque internacional de alimentos, algo considerado de difícil implantação. "Quem iria administrar isso em escala internacional?", questionou. Entretanto, se mostrou favorável em tornar os derivativos mais claros, fazendo operações registradas em bolsas, com câmaras de compensação, e não em balcão. Segundo ele, o excesso de capital em circulação, fruto da política monetária frouxa dos Estados Unidos, estimula a especulação com as commodities.O ministro afirmou que a solução para conter os preços dos alimentos é o aumento da oferta e o fim dos subsídios agrícolas impostos pelos países desenvolvidos.ReservasOs países membros do BRIC se reuniram hoje para buscarem posições a serem apresentadas na reunião do G-20, que começa hoje à noite, em Paris. Segundo Mantega, o grupo se colocará contra o estabelecimento de limites para o acúmulo de reservas internacionais. Ele acredita que, enquanto não houver um sistema financeiro seguro, os países emergentes terão de continuar acumulando reservas. "Se houver uma crise, quem irá nos socorrer?", questionou.Os países também se opõem à imposição de regras e limites para o controle de fluxos de capital, como está sendo discutido por membros do G-20. Na última reunião de cúpula, em novembro do ano passado, o grupo havia dado sinal verdade para as medidas dos emergentes que estavam sofrendo forte entrada de recursos.Para Mantega, cada país deve adotar as medidas que quiser. "O Brasil não abre mão de fazer o que achar necessário", afirmou. Conforme o ministro, a expectativa é de que o fluxo de capital para os emergentes continue crescendo neste ano, depois do salto de 50% registrado em 2010.Brasil, Índia, Rússia e China decidiram incluir a África do Sul ao BRIC. O país, que representa a maior economia da África, já participou da reunião de hoje. "O grupo fica reforçado e mais representativo", disse Mantega.

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