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Manter o curso do estímulo

Por Alan Blinder
Atualização:

Aparentemente sem preocupação com os fatos, alguns republicanos do Congresso vêm afirmando que o pacote de estímulo econômico de US$ 787 bilhões do presidente Barack Obama fracassou e defendem que as etapas remanescentes contempladas na lei sejam canceladas. Em medicina, isso seria negligência; em política, demagogia. Na verdade, nós temos que nos manter nesse curso. E esse curso inclui agora o "Cash for Clunkers" (Dinheiro por Sucata), programa de subsídios federais para estimular as pessoas a se desfazerem do seu carro velho e comprar um novo, mais econômico. À primeira vista, o programa deverá ser um sucesso: de ação rápida e oferecendo uma excelente relação custo/benefício. Esse elegante carro esportivo político parece contrastar totalmente com o antiquado pacote de estímulo do presidente, que caminha muito devagar. Mas não é bem assim. Em primeiro lugar, as imagens de concessionárias de automóveis e de veículos amassados que vêm enchendo as páginas de jornais e telas de TVs não retratam o estímulo real. O que mostram é um "prelúdio" do estímulo - carros velhos indo para o desmanche e novos sendo vendidos, esgotando os estoques. O estímulo real para o emprego só vai surgir quando as montadoras responderem a essas vendas e aos estoques esgotados com aumento de produção. Tudo isso leva tempo e você não vai ver os novos carros manufaturados na TV. O mesmo ocorre com boa parte das medidas de estímulo contempladas na Lei de Recuperação e Reinvestimento. Os efeitos estão aí, mas vai demorar um pouco para serem sentidos. Um bom exemplo é o alívio fiscal para governos locais e estaduais. Não é apenas na Califórnia que governos locais e estaduais estão cortando gastos em todos os tipos de serviço público. Apenas pouco mais de 20% dos US$ 174 bilhões de fundos federais destinados aos Estados foram gastos e essa injeção de caixa está limitando, mas não eliminando, os cortes nos orçamentos. Os outros 80% estão a caminho. Mas não veremos fotos de funcionários públicos não sendo demitidos. Os críticos dizem que o programa de estímulo está atrasado em relação ao previsto. É verdade? Não. Apesar de o governo ter feito uma previsão econômica excessivamente otimista em fevereiro, a lei de estímulo, que compreende a cerca de 5% do PIB ( Produto Interno Bruto), deve se estender por mais de dois anos, mas só ela não vai nunca curar o paciente rapidamente. O objetivo maior do estímulo foi amortecer a queda, como ocorreu. A verdade pura e simples é que nem um governo voraz como o dos Estados Unidos consegue gastar US$ 787 bilhões rapidamente. Os gastos previstos na lei de estímulo estão sendo realizados de acordo com o projetado pelo Congressional Budget Office (a Comissão de Orçamento do Congresso), quando a lei foi sancionada: 24% no ano fiscal de 2009 (que se encerra em 30 de setembro), 50% no ano fiscal de 2010, ou 74% em 18 meses. Estamos ainda no início da vigência de uma lei que o Congresso aprovou há apenas seis meses, mas o estímulo já teve um impacto notável. A estimativa média de três empresas particulares especializadas em previsões econômicas é que esse programa acrescentou 2,5 pontos porcentuais à taxa de crescimento anualizada do PIB no segundo trimestre (se isso parece muito, lembre-se que significa adicionar somente 0,6% ao nível do PIB). As três empresas coincidem em que o impacto sobre o crescimento no terceiro trimestre será um pouco maior. O que não é nada mau. Mas vamos colocar esses dados em perspectiva. O avanço estimado do PIB no segundo trimestre ficou em 1% negativo. Um desempenho medíocre, mas indica uma enorme melhora em comparação com o primeiro trimestre, que foi um desastre (crescimento negativo de 6,4%) e os dois trimestres anteriores a ele. Usando as estimativas que mencionamos antes, o estimulo fiscal foi responsável pela metade dessa melhora no segundo trimestre, em relação ao primeiro. Estamos agora no terceiro trimestre, quando a importância do estímulo provavelmente será ainda maior. Com efeito, o impacto estimado sobre o crescimento (um aumento de 3 pontos porcentuais) na verdade ultrapassa a previsão consensual para o crescimento no terceiro e quarto trimestres, significando que, para os especialistas, o estímulo responderá por mais de 100% do crescimento do PIB neste trimestre. Os cartunistas podem fazer chacota de luzes no fim de túneis, mas parece que a nossa economia, finalmente, está crescendo novamente. E, sem dúvida, a lei de Recuperação e Reinvestimento é a única razão disso. O chairman Ben Bernanke e seus colegas do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) fizeram um excelente trabalho e os poderes autocurativos da economia também ajudaram. Mas a economia, que há seis meses parecia despencar num abismo, hoje está se restabelecendo. Em parte, o mérito é do pacote de estímulo. *Alan S. Blinder foi vice-presidente do Federal Reserve Board e é professor de economia e assuntos públicos na Universidade de Princeton.

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