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Mantida a dureza

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Por Redação
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Apesar das enormes pressões, o Banco Central manteve os juros nos 13,75% ao ano, decisão sacramentada por unanimidade entre os seus oito dirigentes. Assim, enquanto no mundo inteiro os juros vão caindo e, em alguns casos, se aproximando do zero, aqui no Brasil continuam teimosamente lá em cima. Certo ou errado, o Banco Central deve ter entendido que precisa manter a guarda armada contra um eventual impacto da alta da cotação do dólar, de 12% em apenas dois meses, sobre os preços da economia. É o que poderá ser melhor conferido quinta-feira próxima, quando sair a ata da reunião. Essa é uma decisão contestável na medida em que a crise está mudando drasticamente o valor e a eficiência das peças sobre o tabuleiro. O estrangulamento do crédito, por exemplo, que é importado e nada tem a ver com a atual política do Banco Central do Brasil, está bloqueando uma das principais correias de transmissão pelas quais a política monetária opera na economia. É difícil sustentar que a política anterior deva ser mantida nas novas circunstâncias. Ao contrário, parece claro que algumas pontes de safena devam ser montadas para compensar a redução de eficiência da política monetária numa economia contaminada pela crise. Nos últimos sete dias, o presidente Lula externou sua indignação contra os juros altos praticados no País. Mas esse é outro assunto. O alvo principal do presidente não foi propriamente o Banco Central e os juros básicos (Selic), ontem reexaminados pelo Copom. Seu alvo principal foram os bancos que puxaram o spread (diferença entre o que pagam e o que cobram de juros) e as tarifas bancárias sem que o volume de dinheiro tivesse sido alterado na economia. Também agiram assim o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, bancos controlados pelo Tesouro. Nessas horas, também atuam como agentes do oligopólio, em vez de trabalharem para garantir o interesse público (ou, se não isso, pelo menos o interesse do governo) pela redução dos custos financeiros. E não se diga que Banco do Brasil e Caixa são apenas dois entre centenas de bancos e que, por isso, não teriam força para enquadrar o resto do sistema. Ao contrário, eles detêm nada menos que 40% do mercado de crédito no País. Têm poder de fogo suficiente para isso e muito mais. Se não o usam é porque fazem lá seu jogo próprio. É certo que uma reduçãozinha nos juros básicos não seria capaz de tirar a economia da crise em que vai sendo engolfada. Além do mais, a política monetária (política de juros) não é um maçarico que pode aumentar substancialmente a intensidade da chama a um simples aperto de gatilho. Ela opera como remédio homeopático; leva um tempão para fazer algum efeito. Leva pelo menos seis meses, como comprovam os estudos. Nessas condições, meio pontinho ou um quarto de ponto não faria diferença "física" neste momento. No entanto, uma redução dos juros, ainda que mínima, poderia ser entendida como sinal e atuar no nível das emoções e das expectativas e, assim, ajudar as forças produtivas a enfrentarem as atuais adversidades. CONFIRA Rendimento zero - Em sua edição de ontem, o New York Times chamou a atenção para um fenômeno global que não deixa de ser uma anomalia. A remuneração (yield) proporcionada por quem compra títulos do Tesouro dos Estados Unidos está próxima do zero. Na prática, trata-se de rendimento negativo, porque a inflação está em 3,7% ao ano. Explicação: a demanda por títulos do Tesouro é tão grande que, por efeito da lei da oferta e da procura, seus preços sobem. O aplicador tem de pagar mais para tê-los em carteira. Com isso, os juros do título caem em relação ao valor desembolsado.

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