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Marcas querem mais voz ativa, diz CEO do festival de Cannes

Para Philip Thomas, empresas agora buscam pessoal criativo para definir estratégias de comunicação com as agências

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Por Fernando Scheller
Atualização:

SÃO PAULO - Em apresentação no Cannes Lions Festival Internacional de Criatividade de 2012, a agência Deutsch LA identificou em uma pesquisa que as referências dos publicitários em inovação não são as agências, mas marcas como Google, Facebook e Apple. De acordo com o CEO do Cannes Lions, Philip Thomas, a recíproca é verdadeira: as grandes empresas também perceberam que ter pessoal criativo em sua equipe lhes dará mais voz ativa na hora de discutir com as agências os rumos de suas marcas.

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Tanto é assim, disse Thomas nesta terça-feira, 26, durante palestra na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, que um número cada vez maior de clientes participa de Cannes. No ano passado, 25% das inscrições vieram de empresas. E o motivo para tanto interesse no festival – evento que tem o Estado como representante oficial no País – é puramente econômico: grandes companhias já conseguiram provar em números que campanhas mais criativas são mais eficazes – e, portanto, se traduzem em retorno maior para os acionistas.

Uma das empresas que estão investindo fortemente na definição da própria estratégia de marca é o Google. Esse esforço para tomar as rédeas da própria criação se reflete no aumento do número de Leões que a empresa ganhou nos últimos anos: em 2010, foram apenas 4; no ano passado, o total chegou a 33, o suficiente para fazer do Google o Anunciante do Ano. Uma das peças premiadas, referente ao Google Play, foi criada e produzida dentro da empresa. "O Google fez o papel de cliente, agência de publicidade e de produtora", explicou.

 

 

Isso não quer dizer que as agências vão desaparecer, afirmou Thomas, mas que as marcas passarão a internalizar parte do trabalho que hoje é terceirizado. "O crescimento do talento criativo dentro das empresas não vem para substituir as agências", disse Thomas. "No entanto, a maneira de vender o trabalho terá de mudar. Os publicitários terão de estar mais preparados para discutir em pé de igualdade com o cliente. Além disso, não vão mais vender horas de trabalho, e sim as ideias que tiverem."

Diferença no resultado

A presença maciça de grandes empresas no festival Cannes Lions é um sinal de que as empresas acreditam que um prêmio de criação realmente faz diferença no resultado de um negócio – e não serve apenas para os profissionais de comunicação celebrarem o próprio trabalho. "O McDonald’s calculou que uma campanha que ganha um Leão em Cannes tem um retorno sobre o investimento 54% superior àquelas que não vencem nada", disse Thomas. É por isso, explicou, que as marcas vão contratar pessoal criativo capaz de avaliar o real potencial das propostas das agências.

Tanto as empresas quanto as agências de publicidade terão de buscar o melhor pessoal criativo. Após a morte de Steve Jobs, em 2011, circulou pela internet a imagem de uma maçã da Apple com o perfil do fundador no lugar da tradicional mordida que caracteriza a logomarca. A agência Ogilvy China tentou localizar o responsável pelo trabalho – e chegou a Jonathan Mak, um estudante de design de 19 anos de Hong Kong. Após ser contratado, ele desenhou a campanha Coke Hands, para a Coca-Cola, que levou o Grand Prix na categoria Outdoor no ano passado.

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Talento na ‘periferia’

Thomas diz que as economias menores estão mostrando boas soluções criativas que estão sendo reconhecidas em Cannes. Ele diz que, quando o tamanho da economia do Brasil é levado em conta, a quarta posição em número de Leões no ano passado (atrás de Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha) não parece tão relevante. "Quando o número de Leões é cruzado com o total de recursos gastos em anúncios no País, o Brasil cai para a 16.ª colocação", explicou.

Para o CEO do Cannes Lions, o Brasil pode crescer em áreas como Cyber e Titanium & Integrated – iniciativas digitais e integradas em várias mídias, respectivamente –, já que tradicionalmente a premiação do País se concentra em categorias mais tradicionais. No ano passado, dos 79 Leões que o Brasil trouxe para casa, 18 vieram de Press Lions (mídia impressa).

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