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Como é ter uma fábrica praticamente parada por quase dois meses pelo coronavírus

Empresa pausou atividades na China durante Ano Novo chinês e não pôde retornar por conta do surto da doença

Foto do author Cristiane Barbieri
Por Cristiane Barbieri (Broadcast)
Atualização:

A Marcopolo tem uma fábrica no Novo Distrito de ChangZhou, na cidade homônima que fica na província de JiangSu, na China. É lá que a empresa gaúcha produz componentes e carrocerias de ônibus de diferentes modelos, para vender principalmente a países da Ásia e Oceania, como Hong Kong, Mianmar e Austrália. A produção é de 1 ônibus por dia, por turno de trabalho. No dia 25 de janeiro, a operação foi fechada por festa: eram as comemorações do Ano Novo chinês e todos os funcionários partiram para visitar suas famílias.

Imunidade induzida por outros coronavírus pode não proteger idosos da covid-19, aponta estudo. Foto: STR/AFP

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A previsão de retorno era o dia 10 de fevereiro, logo após as celebrações. Só que a fábrica - e na verdade, todo o país - foi atingida em cheio pelo surto de coronavírus e o retorno às atividades só começou a acontecer parcialmente há pouco mais de uma semana, no dia 2 de março. Só na próxima terça, 17, está previsto o retorno de forma plena, inclusive com o recebimento de insumos dos fornecedores.

Nenhum funcionário contaminado até o momento. A fábrica possui dois funcionários da cidade de Wuhan, os quais não têm data para voltar. Pois a cidade de Wuhan ainda está sob controle militar.

O fato de os cerca de 200 funcionários serem cidadãos chineses facilitou a gestão da crise. "Não tivemos nenhum expatriado para retornar ao Brasil", escreveu ao Estadão/Broadcast o diretor de Estratégia e Negócios Internacionais da companhia, André Vidal Armaganijan. "Os funcionários retornaram para suas casas, aguardaram a definição e chamada para retorno às atividades."

A quarentena - e a garantia de que os funcionários ficaram em suas casas - foi monitorada e garantida pela comprovação por deslocamento de celular. Segundo Armaganijan, todos os funcionários têm celular e antes da paralisação passaram pelo processo de escaneamento de um código QR, cedido pela China Mobile. "(Essa ferramenta) permitiu identificar onde cada um esteve durante o período de quarentena", disse Armaganijan.

O maior desafio é contornar o questão das visitas de clientes e potenciais clientes agendadas que tiveram que ser canceladas e adiadas. Com a situação, ainda não há uma definição de quando as visitas poderão ser retomadas.

Tanto quanto a fábrica, o relacionamento comercial com os clientes também foi derrubado pela epidemia. "Diversas visitas de clientes e potenciais clientes de mercados como Hong Kong/Mianmar, Oriente Médio e Tanzânia estavam programadas para os meses de fevereiro e março, e todas foram canceladas, sem ainda a confirmação de remarcação", escreveu Armaganijan.

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Como a paralisação se estenderá por quase dois meses (de 25 de janeiro a 17 de março), o impacto na produção e no atendimento das demandas será comprometido, segundo ele. "A perda de produção estimada é de dois a quatro meses", diz.

Com o retorno das atividades administrativas no fim de fevereiro e da área produtiva no início de março, a fábrica está operando de maneira parcial e utilizando insumos que estavam em estoque. O retorno do recebimento de componentes e insumos de fornecedores só será reativado na segunda quinzena de março. Por isso, a programação de retorno está prevista apenas para o dia 17 de março.

"Somente após a normalização das atividades produtivas e do fluxo de recebimento de insumos por parte dos fornecedores é que poderemos mensurar as perdas e também o atraso na entrega de pedidos dos clientes", disse ele. Por enquanto, a estimativa é de um atraso de dois a quatro meses no processo como um todo.

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