
07 de dezembro de 2018 | 17h53
Quem entende de mar reza que antes de uma tempestade sempre tem uma calmaria. No caso da inflação no varejo, esta calmaria tem sido muito mais prolongada do que o mais antigo marinheiro poderia prever.
A maré até chegou a subir em meados de 2018 – mas pelo efeito temporário da paralisação dos caminhoneiros –, e teve outro soluço em setembro, por causa das altas do petróleo e do dólar.
As expectativas dos players subiram ao sabor dessa maré, mas rapidamente baixaram com a recente calmaria. Muito marinheiro tem repensado o timing de jogar a âncora: não faz muito tempo, alguns analistas avaliavam que a Selic subiria ainda em 2018; agora o mais recente boletim do BC aponta Selic subindo apenas em agosto de 2019 (e dá para apostar que vão empurrar para ainda mais adiante).
A deflação de novembro, é bem verdade, teve a influência da mudança de bandeira tarifária da energia elétrica, bem como da queda dos combustíveis, mas como ignorar o avanço ainda modesto dos Serviços (a LCA projeta a menor variação anual desde 2000) e de todas as medidas de núcleo de inflação?
A mansidão poderá se espraiar por boa parte de 2019, já que as esperadas acelerações dos alimentos (por conta de um El Niño de intensidade mediana) e dos preços de Serviços configuram-se como focos de pressão apenas moderados (até porque um crescimento do PIB na faixa de 2,5% ficará longe de esgotar a ociosidade na economia).
Ademais, esperamos desaceleração dos preços administrados em 2019, pois altas dos combustíveis como em 2017 (majoração de impostos) e 2018 (desabastecimento e petróleo) não estão no radar. Em adição, dificilmente o dólar subirá tanto como em 2018.
A inflação atual lembra aqueles dias em que os marinheiros mais experientes saem para navegar com a tranquilidade de quem mal precisou consultar os instrumentos – uma maré mansa, que dispensará majoração da Selic por um bom período, sobretudo enquanto a atividade econômica não chancelar aumentos mais agressivos de preços.
* É ECONOMISTA SÊNIOR DA LCA CONSULTORES
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