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Matemático critica uso do IGP-M em contratos

O matemático José Vieira Dutra Sobrinho preparou um estudo que mostra forte discrepância entre o IGP-M e os demais índices de inflação. Segundo ele, o Índice da FGV não deveria ser usado como indexador de contratos.

Por Agencia Estado
Atualização:

A segunda prévia de novembro do Índice Geral dos Preços de Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), veio acima do esperado e surpreendeu os analistas. O número apontou uma alta de 3,86%, enquanto o esperado era uma alta entre 3% e 3,55%. O matemático José Vieira Dutra Sobrinho critica o uso desse Índice como referencial para o reajuste de contratos, como aluguéis, prestações de financiamentos imobiliários, títulos da dívida pública federal e outros, devido à forte discrepância entre o IGP-M e todos os demais índices de inflação. "O fato é que a composição do IGP-M é fortemente afetada pela alta do dólar devido à sua composição.", explica Dutra Sobrinho. Para se ter uma idéia, na segunda prévia de novembro, o Índice de Preços ao Atacado (IPA) - responsável por 60% da composição do IGP-M - apurou uma alta de 4,97%. Além desse Índice, o IGP-M também é formado pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e pelo Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), que representam 30% e 10%, respectivamente, na composição do Índice. A alta para esses Índices, na segunda prévia de novembro, foi de 2,07% e 1,36%, respectivamente. Estudo mostra discrepância Um estudo preparado pelo matemático mostrou que há uma forte discrepância entre o IGP-M e todos os outros índices de inflação, como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); o IPC da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe); e o Índice do Custo de Vida (ICV) calculado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). Para se ter uma idéia, nos últimos 46 meses - janeiro de 1999 a outubro de 2002 - a média entre o INPC, o IPCA, o IPC e o ICV resulta em uma alta de 33,25%, enquanto a variação do IGP-M para o mesmo período é de 67,35%. Ou seja, há uma diferença de 102,56%. Na comparação apenas com a inflação acumulada pelo IPCA - índice usado como referência para a meta de inflação -, que apurou alta de 32,99% no período, a diferença é de 104,15%. Tomando por base o ano de 1999, ano da desvalorização do real com a adoção da política de câmbio livre, a variação do IGP-M foi 125,98% superior à variação da média dos principais índices. Naquele ano, a alta do dólar foi de 49,13%. Segundo Dutra, para este ano, em que o dólar já acumula uma alta de 51,28% frente ao real até ontem, a diferença acumulada nos últimos 46 meses entre o IGP-M e os outros índices deve ser superior a 100%. No acumulado do ano, o IGP-M registra 19,26% e no acumulado em 12 meses, 19,52%. "É muito complicado dizer qual o índice mais adequado para se medir a inflação brasileira. Entretanto, podemos afirmar que o IGP-M é o menos indicado, pois é extremamente influenciado pelas variações cambiais. E é justamente o IGP-M o índice mais utilizado para atualizar os preços de diversos serviços que vêm onerando cada vez mais o orçamento do brasileiro", afirma Dutra Sobrinho. Veja os números do estudo Ano Ano INPC (IBGE) IPCA (IBGE) IPC (Fipe) ICV (Dieese) Média IGP-M (FGV) 1999 8,43% 8,94% 8,64% 9,57% 8,90% 20,10% 2000 5,27% 5,97% 4,38% 7,21% 5,71% 9,95% 2001 9,44% 7,67% 7,13% 9,43% 8,42% 10,37% 2002 (até outubro) 8,06% 6,98% 5,16% 6,88% 6,77% 14,82% Acumulado 34,99% 32,99% 27,74% 37,40% 33,25% 67,35%

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