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Matriz ajuda filial a obter crédito mais barato no exterior

Mais da metade do ingresso de empréstimos intercompanhia no País veio de filiais no exterior para as matrizes no Brasil em 2018; dinheiro para novos projetos ficou escasso

Por Douglas Gavras
Atualização:

Não foi só a fraqueza da economia brasileira e o reposicionamento de multinacionais no mercado que fizeram o “socorro” às empresas de suas matrizes e filiais estrangeiras crescer. O aumento do empréstimo intercompanhia no ano passado foi impulsionado pela busca por crédito mais barato no exterior.

Ainda que os juros básicos no Brasil estejam em um patamar historicamente baixo, os juros no exterior compensam. Foto: Fabio Motta/Estadão

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“A lentidão na recuperação da economia afeta o caixa das empresas; ao mesmo tempo, obter crédito no Brasil não é das tarefas mais fáceis”, diz Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “A filial brasileira no exterior ou a matriz estrangeira capta os recursos com juros mais baixos lá fora.”

Ainda que os juros básicos no Brasil estejam em um patamar historicamente baixo, de 6,5% ao ano, os juros no exterior compensam. Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa básica está entre 2,0% e 2,5% ao ano.

No ano passado, mais da metade do ingresso de empréstimos intercompanhia no País veio de filiais no exterior para as matrizes no Brasil. Esse movimento também reflete a maior facilidade e as melhores condições para tomar crédito no exterior, explica Cagnin, para socorrer a empresa no Brasil ou tomar crédito lá fora para oportunidades de investimento.

“O setor de óleo e gás é um exemplo: as empresas tentam se reorganizar, após a Operação Lava Jato, e precisam de socorro de suas matrizes no exterior; por outro lado, parte do setor buscou crédito mais barato no exterior, se preparando para as oportunidades de investimento com a exploração dos recursos do pré-sal”, diz Cagnin.

O diferencial de rentabilidade de aplicações no Brasil em relação a outros países também favoreceu a entrada de recursos para aplicações financeiras via empréstimo intercompanhia.

“Para este ano, pode haver maior entrada de capital estrangeiro, se houver a retomada da confiança. O investidor estrangeiro quer ver o governo colocar em marcha os programas de concessões”, analisa o economista Mauro Rochlin, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

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Dinheiro para novos projetos ficou escasso

A reversão de expectativas para a economia a partir de 2014 e os impactos da recessão na indústria, comércio e serviços pesaram nas previsões de investimentos para os próximos anos no Brasil. Os recursos devem ser direcionados cada vez mais para manutenção e modernização das unidades que já existem no País, em vez da construção de novas unidades.

Entre 2015 e 2018, os recursos, nacionais ou estrangeiros, previstos para a instalação de novas fábricas e unidades somaram US$ 105,6 bilhões. Já os recursos previstos para modernização das unidades já existentes eram de US$ 119,6 bilhões. Em 2018, apenas os investimentos estimados para esses projetos superaram os de 2014. Os recursos para inaugurações ficaram abaixo do que eram em 2014. Os dados são da Rede Nacional de Informações sobre Investimento (Renai), do antigo Ministério da, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).

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“Setores tradicionais têm um modelo de negócio sensível aos percalços da economia e há um movimento global em alguns deles, como o farmacêutico, de aumentar investimentos em países desenvolvidos. Dinheiro para novos projetos é cada vez mais escasso”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas (Sobeet), Luis Afonso Fernandes Lima.

Nos últimos anos, os investimentos da indústria química têm ido mais para a modernização e manutenção das unidades já instaladas no País, em lugar da implantação de novos projetos, diz Fátima Ferreira, da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).  Ela explica que o setor hoje tem 20% das fábricas com capacidade ociosa e acaba sendo um termômetro, por abastecer outras indústrias. “O País tem mercado interno e matéria-prima para atrair empresas, mas é preciso que a economia dê sinais claros de estabilidade.”

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