No início do ano, o cenário econômico apresentava-se promissor. Dada a elevada taxa de ociosidade na utilização dos recursos produtivos, bastava ao governo aplicar de forma responsável políticas de estímulo da demanda e seguir insistindo no ajuste estrutural das finanças públicas, mesmo diante das dificuldades políticas de um ano eleitoral.
Com pouco espaço na área fiscal, coube ao Banco Central a tarefa de gerar estímulos mediante expressiva redução da taxa básica de juro (Selic), não na canetada, mas sim apoiada em trajetórias da inflação, tanto a observada como a esperada, abaixo do centro da meta.
Ao mesmo tempo, o crédito, principalmente para pessoas físicas, dava sinais positivos, com moderado, mas firme aumento real nas concessões diárias.
O comprometimento de renda das famílias com pagamento de dívida caía seguidamente e o mercado de trabalho começava a mostrar melhora antes do que era esperado. A estimativa oficial de crescimento de 3% no PIB de 2018, mais do que realista, parecia até mesmo conservadora.
No entanto, a atividade econômica mostrou resultados decepcionantes no primeiro trimestre. As informações já disponíveis para o segundo trimestre são compatíveis com recuperação ainda muito modesta. Dificilmente será possível chegar aos 3% de crescimento do PIB neste ano.
No mercado financeiro, as taxas de juros para prazos mais longos continuaram subindo, o real já se depreciou cerca de 13,5% em relação ao final do ano passado e as ações, apesar de terem sofrido menos, vêm registrando comportamento bem abaixo da maioria das previsões.
Afinal, quais são as causas dessas frustrações de expectativas? E o que deveremos esperar para o restante do ano?
Parte expressiva do estresse no mercado financeiro deve-se a fatores externos. Nos Estados Unidos, a combinação de corte de impostos, expansão de gastos públicos e medidas protecionistas tem alimentado o temor de alta da inflação e, portanto, dos juros. Entre o final do ano passado e a última sexta-feira, a remuneração anual dos títulos do Tesouro norte-americano com prazo de 10 anos subiu de 2,4% para 3,1%. Movimentos dessa magnitude, em período tão curto, não são triviais e geram consequências perversas para os países emergentes.
No plano interno, destaca-se o elevado nível das incertezas. A Fundação Getúlio Vargas publica mensalmente o Indicador de Incerteza da Economia – Brasil (IIE-Br), composto por três medidas: 1) frequência de notícias com menção à incerteza; 2) dispersões das previsões de especialistas para a taxa de câmbio e para o IPCA; e 3) volatilidade do mercado financeiro. Esse indicador, que tem se mostrado extremamente útil para projeções, principalmente em situações de recessão ou atividade econômica muito fraca, subiu nos últimos dois meses (março e abril) e tudo indica que deverá registrar nova alta em maio. Ademais, seu patamar atual (113,2) é elevado, pois está bem acima da mediana (96,5) e próximo dos níveis alcançados em períodos críticos, como na primeira eleição ganha por Lula para a Presidência (113,5, outubro de 2002), no pior ano da crise econômica global (113,1, dezembro de 2008) e em plena recessão no governo Dilma (114,9, novembro de 2015).
Claro, isso também tem a ver com a volatilidade externa, mas a causa principal parece ser a indefinição do cenário eleitoral e o fato de os candidatos que estão à frente nas pesquisas não terem mostrado disposição em aprofundar as reformas econômicas que debelem o crescimento explosivo da dívida pública e aumentem a produtividade da economia.
Com tal nível de incerteza, que tende a perdurar pelo menos nos próximos dois a três meses, é natural que o investimento não prospere, que a melhora do mercado de trabalho tenha se desacelerado e que a recuperação econômica perca dinamismo.
*ECONOMISTA E DIRETOR-PRESIDENTE DA MCM CONSULTORES. FOI CONSULTOR DO BANCO MUNDIAL, SUBSECRETÁRIO DO TESOURO NACIONAL E CHEFE DA ASSESSORIA ECONÔMICA DO MINISTÉRIO DA FAZENDA